segunda-feira, 29 de outubro de 2012
HAL, um repositório de textos científicos à disposição de todos
sábado, 1 de outubro de 2011
Observatório das Desigualdades: um marco fulcral para informar as políticas públicas em Portugal
sábado, 4 de dezembro de 2010
Arquivo Histórico digital de Cascais já está online
sábado, 3 de julho de 2010
Classica Digitalia: quando o sonho se faz obra
Além da componente digital, de livre acesso, está assegurada a publicação em formato impresso de todos os títulos editados pela CLASSICA DIGITALIA.
Esta biblioteca está dividida em 4 áreas: 1) Humanitas (revista homónima, parte da qual de livre acesso); 2) Humanitas-Supplementum; 3) Autores Gregos e Latinos; 4) Varia. A pesquisa das obras pode ser feita por título, autor, assunto e data. Disponibiliza ainda um serviço de alertas.
Entre os últimos textos digitalizados contam-se as Obras morais - sobre o afecto aos filhos, sobre a música, de Plutarco.
Nb: este post foi inspirado no texto «Erudições», de José Pacheco Pereira, uma ode sentida à erudição, esse «sonho de absoluto» visto por muitos como obsoleto e inútil...
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Estatísticas sobre o Portugal do último cinquenténio
quarta-feira, 22 de abril de 2009
UNESCO estreia a Biblioteca Digital Mundial
A BDM fornece livre acesso a manuscritos, diários, livros raros, mapas, filmes, fotografias e gravações (vd. aqui), sendo multilingue (está disponível em árabe, chinês, espanhol francês, inglês, português e russo). Alguns exemplos de conteúdos de origem portuguesa são referidos aqui.
Apresentando-se como complementar da Europeana e da Google Book Search e tendo como públicos-alvo estudantes, educadores e académicos, aposta nas áreas cultural e educativa, em especial na interculturalidade e no entendimento internacional. Outros fins são reforçar os conteúdos culturais e auxiliar as instituições parceiras a colmatar lacunas no digital (vd. aqui).
terça-feira, 31 de março de 2009
Criada a biblioteca europeia virtual de música
«Um dos objectivos é que os próprios utilizadores contribuam para o desenvolvimento do portal», explica Bruno Pereira, coordenador do projecto em Portugal e responsável pela área de Relações Internacionais da ESMAE. «A ideia é que haja um enriquecimento constante dos conteúdos existentes e o Variazioni pode evoluir mediante a contribuição dos utilizadores, que podem, inclusive, traduzir conteúdos na sua própria língua», sublinha. O portal é coordenado pela Fundação Albeniz de Espanha, uma das referências europeias da área musical. «Não existe nada como o Variazioni e a componente de inovação foi um dos motivos para que a União Europeia apoiasse o projecto»".
Fonte: Sara Dias Oliveira, «Variazioni ESMAE participa na criação de biblioteca europeia virtual de música», Público, 31-3, p. 8.
sábado, 27 de dezembro de 2008
Federico García Lorca digital
A Residencia de Estudiantes lançou a semana passada a nova web corporativa específica (garcia-lorca.org), organizando o acesso a mais de 15 milhões de referências virtuais a Lorca. Trata-se dum espaço de "referência básico para a vida e obra de Lorca", nas palavras da sobrinha do poeta e presidente da Fundação García Lorca, Laura García Lorca. O projecto teve o apoio de especialistas como Christopher Maurer (Univ. de Boston) e Andrés Sorria (Univ. de Granada).
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
O Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal já está a funcionar
"A plataforma vai permitir aos investigadores portugueses disponibilizar os seus resultados das investigações científicas.O projecto, desenvolvido pela Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) e pela Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN) em colaboração com a Universidade do Minho - «pioneira no movimento de Repositórios Científicos de Acesso Aberto», diz o comunicado da FCNN - é uma plataforma informática que vai agregar conteúdos científicos em regime de acesso aberto. A informação será produzida pela «comunidade científica, nomeadamente pelas unidades de investigação e pelas universidades», diz Luís Magalhães, presidente do conselho executivo da UMIC. O objectivo é criar uma plataforma de informação científica nacional coerente, ao mesmo tempo mantendo a identidade corporativa. Actualmente, já integra as cinco bases de dados de instituições científicas e de ensino superior anteriormente existentes e espera a adesão de outras unidades de ensino. O RCAAP baseia-se no software de código aberto DSpace, criado pelo MIT precisamente para repositórios deste tipo, actualmente utilizado em várias partes do mundo. Luís Magalhães acrescenta que o sistema está «integrado num movimento internacional» de disponibilização e expansão enquanto instrumento de informação da actividade de investigação científica de acesso aberto".
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Europeana, a biblioteca digital europeia
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Wikimedia Foundation: o livre acesso ao saber através da Internet
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
PR exorta a um desenvolvimento mais harmonioso
Por ocasião da inauguração da Biblioteca Municipal José Cardoso Pires, em Vila de Rei (distrito de Castelo Branco), Cavaco Silva referiu que o interior do país "está como sempre mais longe dos investimentos e do emprego, e está despovoado como nunca esteve". É sua convicção "que o país, no seu todo, tem de assumir a responsabilidade de apostar num desenvolvimento mais humano e mais harmonioso". E deixou um alerta para a necessidade de se reforçar as políticas públicas orientadas para o desenvolvimento sustentável, de modo a travar o despovoamento do interior e, com ele, a corrosão social, política e territorial. Nas suas palavras: "A coesão territorial e a defesa da nossa identidade exigem uma atenção acrescida dos poderes públicos ao grave problema do despovoamento do interior". A notícia é do Público e pode ser lida aqui.
Planos de gestão do território português acessíveis na Internet
Este arquivo com sistema de pesquisa, designado por Sistema Nacional de Informação Territorial (SNIT), é da responsabilidade da Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano. Mais informações aqui.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
quinta-feira, 5 de junho de 2008
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Os museus da resistência antifascista no mundo
Chile: o caminho da memória da resistência à Ditadura militar de Pinochet (1973-90) tem sido mais difícil, e só possível graças à acção de associações cívicas como a Corporación de Promoción y Defensa de los Derechos del Pueblo, a qual foi fundada em plena Ditadura militar de Pinochet (1980), a Derechos Chile e o Proyecto internacional de Derechos Humanos, criado em Londres.
Sítios pela memória da resistência antifascista
Aproveito para divulgar aqui um levantamento que fiz sobre os blogues e sítios de Internet que podem auxiliar na reflexão e estudo sobre a resistência antifascista e sobre a luta pela liberdade e a democracia em todo o mundo. Não é exaustivo, mas é um bom começo.
Blogues pela memória (Portugal)
Almanaque Republicano [Artur B. Mendonça & José M. Martins]
Amigos de Aristides e Angelina Sousa Mendes
António Aniceto Monteiro [Jorge Rezende]
Associação José Afonso
Cantaremos Adriano [Erva de Cheiro]
Coisas de outros tempos [Rezendes]
Eco-grafia [SR, JMV & JFSR]
Entre as brumas da memória [Joana Lopes]
Estudos sobre a Guerra Civil Espanhola [Tiago Barbosa Ribeiro]
Estudos sobre o Comunismo [José Pacheco Pereira]
Holocausto / Shoah [MJ]
Passado/Presente: a construção da memória no mundo contemporâneo
Raia Viva [Cong.º Internacional sobre a raia: 1936-1952]
Ruy Luís Gomes [Jorge Rezende]
Salazarices
TóColante [Papo-Seco]
Sítios pela memória (Portugal)
Adriano Correia de Oliveira [Escª Secª Emídio Navarro-Viseu]
Adriano sempre!
Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea [BNL]
Arquivo de História Social [ICS-UL]
Associação 25 de Abril
Associação de Professores de História
Associação José Afonso
Biblioteca-Museu República e Resistência [CML]
Censura16 [Notícias da Amadora]
Centro de Documentação 25 de Abril [Universidade de Coimbra]
Centro de Documentação e Informação da Universidade Popular do Porto
Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa [ISCTE]
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX [Universidade de Coimbra]
CIDAC- Centro de Informação e Documentação Anti-Colonial
Colecção 25 Abril [Viva Abril]
Fundação Humberto Delgado
Fundação Mário Soares
Galeria virtual da censura [Museu Nacional da Imprensa]
Hemeroteca Digital da CML
Instituto de História Contemporânea da FCSH-UNL
memória de áfrica [Fundação Portugal-África]
Memórias na Internet de Maria de Lourdes Pintasilgo [Fundação Cuidar o Futuro]
Museu da Pessoa - Núcleo Português [Universidade do Minho]
Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes
O barreiro na web [dossier tv25]
revista História
Sousa Mendes [Le Comité Nacional d'Hommagem à Aristides de Sousa Mendes, Bordéus]
URAP- União dos Resistentes Antifascistas Portugueses
Sítios pela memória (Alem.)
Stiftung Gedenkstätten Buchenwald und Mittelbau-Dora [Fundação dos Memoriais de Buchenwald e Mittelbau-Dora]
Topographie des Terrors [Fundação Topografia do Terror]
Sítios pela memória (Arg.)
Abuelas de Plaza de Mayo
Asociación de Ex detenidos-desaparecidos
Asociación Madres de Plaza de Mayo
Asociación Seré por la Memoria y la Vida
Centro de Estudios Legales y Sociales (CELS)
Comisión Provincial por la Memoria - Buenos Aires
Documentos desclasificados 1975-1984 (origem: FOIA, EUA)
Familiares de Desaparecidos y Detenidos por Razones Políticas
Grupo Fahrenheit
HIJOS- Hijos e hijas por la Identidad y la Justicia contra el Olvido y el Silencio
Justicia Ya
Madres de Plaza de Mayo - Linea Fundadora
memoria abierta
Memoria y Resistencia de los Presos Políticos
Nunca Mas
The Vanished Gallery
Zona Abierta (la marca editora, Memoria en construción)
Sítios pela memória (Austrália)
Australian War Memorial
Sítios pela memória (Áustria)
FIR- Fédération Internationale des Résistants - Association Antifasciste (Federação Internacional dos Resistentes - Assocº Antifascista, sediada em Viena]
DÖW- Dokumentationsarchiv des österreichischen Widerstandes [Centro de Documentação sobre a Resistência Austríaca]
Sítios pela memória (Bélgica)
CEGES- Centre d’Etudes et de Documentation Guerre et Sociétés contemporaines (Bruxelas)
Sítios pela memória (Brasil)
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular
DHNet - Rede Direitos Humanos e Cultura
memória do movimento estudantil [Fundação Roberto Marinho]
Museu da Pessoa [São Paulo]
Tortura Nunca Mais [Rio de Janeiro]
Sítios pela memória (Chile)
Proyecto Internacional de Derechos Humanos
Derechos Chile
CODEPU- Corporación de Promoción y Defensa de los Derechos del Pueblo
Sítios pela memória (Espanha)
ADE- Asociación de Descendientes del Exilio Español
AFAR- Asociación de Familiares y Amigos de Represaliados de la II República por el franquismo
AGE- Archivo Guerra Civil y Exilio
Asociación Salamanca Memoria y Justicia
Asoziazión Cultural Bente d'Abiento [Aragão]
Associación de Amigos de las Brigadas Internacionales
Associación para la Recuperación de la Memoria Histórica
Associación Pozos de Caudé
CMHT- Coordinadora per a la Memòria Històrica i Democràtica de Catalunya
Comisión pola Memoria Siñor Afranio
El Canal de los Presos [da CGT-Andaluzia]
Espacio de Foro por la Memoria de Huelva
Federación Estatal de Foros por la Memoria
Fundacion Pablo Iglesias
Gernikako Bakearen Museoa Fundazioa [Fundação Museu da Paz de Guernica]
Radio Nizkor [La cuestión de la impunidad en España y los crímenes franquistas]
Sítios pela memória (EUA)
Nahum Goldmann Museum of the Jewish People
The Center for Advanced Holocaust Studies (USHMM)
The Holocaust History Project
United States Holocaust Memorial Museum
USC Shoah Foundation Institute for Visual History and Education
Sítios pela memória (França)
AERI- Association pour des Études sur la Résistance Intérieure [filiada na Fondation de la Résistance]
FNDIRP- Fédération Nationale des Déportés et Internés Résistants et Patriotes
Fondation pour la Mémoire de la Déportation
Fondation Pour la Mémoire de la Shoah
Institut d’histoire du temps présent [CNRS]
Mémoire de la déportation et de la résistance [portal temático]
Mémorial de la Shoah
On chantait quand même (chansons sous l'occupation) [Hall de la chanson]
Oradour-souviens-toi [massacre de Oradour sur Glane]
Sítios pela memória (Holanda)
Anne Frank Huis [Casa de Anne Frank]
Nederlands Instituut voor Oorlogsdocumentatie [Instituto Holandês de Documentação sobre a Guerra]
Verzetsmuseum [Museu da Resistência Holandesa]
Sítios pela memória (Hungria)
O Museu da Casa do Terror [rede de museus da Hungria]
Sítios pela memória (Israel)
Yad Vashem
Sítios pela memória (Itália)
ANPI- Associazione Nazionale Partigiani d'Italia
INSMLI- Istituto Nazionale per la Storia del Movimento di Liberazione in Italia
Istituto per la storia della Resistenza e della società contemporanea nelle province di Biella e Vercelli [filiado na INSMLI]
Museo virtuale dell'antifascismo e della Resistenza [Arezzo]
Sítios pela memória (Japão)
Hiroshima Peace Memorial Museum
Osaka International Peace Center
Sítios pela memória (Paraguai)
Coordinadora de Derechos Humanos
Museo de Las Memorias
Sítios pela memória (Reino Unido)
Imperial War Museum
Oral History Society
Refugee Communities History Project
Voices of the Holocaust [British Library]
Nb: este levantamento foi originalmente por mim realizado para o blogue do movimento cívico Não apaguem a memória!
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Cientistas fotografam imagens mentais
in Público, 2008-03-06
"Um dispositivo capaz de "ler" o cérebro e de produzir uma imagem da experiência visual de uma pessoa poderá em breve tornar-se realidade", anuncia a revista Nature num lacónico comunicado, a propósito de resultados discretamente publicados na sua edição on-line hoje.
Será que percebemos bem? Estarão eles realmente a falar em detectar, nos meandros dos nossos neurónios, as imagens que a nossa mente forma quando olhamos para alguma coisa? Pois estão. Não é já para amanhã, mas o certo é que Jack Gallant e a sua equipa, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, acabam de dar um passo fundamental nesse sentido.
Utilizando apenas a análise dos padrões de actividade cerebral gerados pelo visionamento de imagens naturais, mostraram que é possível identificar, com grande precisão, a imagem que o cérebro humano está a ver.
A experiência que realizaram assemelha-se àquele truque que consiste em escolher uma carta sem a mostrar ao mágico, olhar para ela e tornar a inseri-la no baralho. Instantes depois e uns abracadabras mais tarde, o mágico puxa da carta certa e o público aplaude. Só que aqui não é magia.
Dir-te-ei o que vês
No laboratório, dois participantes (dois dos autores do estudo, Thomas Naselaris e Kendrick Kay) começaram por visionar, ao acaso, 1750 fotografias de objectos diversos. "Pessoas, sítios, animais, aquelas coisas que costumamos fotografar durante as férias", disse Gallant ao PÚBLICO. E graças à técnica de ressonância magnética funcional (fMRI), que permite visualizar em tempo real a actividade cerebral, registou-se o que estava a acontecer nas áreas visuais do cérebro, onde são processados os sinais nervosos vindos da retina.
A partir desses registos, e com base num modelo matemático que simula os processos cerebrais, os investigadores construíram um "descodificador" que produz, a partir de qualquer imagem, um determinado padrão de actividade cerebral. O modelo leva em conta, nomeadamente, "dicas" visuais que os neurobiólogos sabem que o cérebro utiliza para reconhecer o que vê, tais como a localização no espaço e a orientação dos elementos presentes na imagem apresentada.
Finda esta fase de "treino" do dispositivo, pediu-se aos participantes para olharem cada um para uma só imagem, desta vez escolhida ao acaso num conjunto de 120 fotografias, todas elas diferentes das que tinham visto até aí. Mais uma vez, registou-se a actividade cerebral de ambos.
Mas agora, em paralelo, os cientistas também recorreram à simulação matemática. Mais precisamente, para cada uma dessas 120 fotografias, o sistema descodificador gerou um padrão de actividade cerebral. O passo final foi escolher, entre todos esses padrões possíveis, aquele que mais se parecia com o padrão de actividade cerebral efectivamente produzido pelos participantes enquanto olhavam para a foto que lhe fora apresentada. Os resultados de múltiplos testes foram espectaculares: o modelo escolheu a fotografia certa em 92 por cento dos casos para Naselaris e em 72 por cento para Kay!
Quando o número de imagens possíveis aumenta, o desempenho diminui, mas mesmo assim é notável: com 1000 imagens, o descodificador ainda conseguiu identificar 82 por cento das imagens apresentadas a Naselaris. "Os nossos cálculos sugerem - dizem os autores - que num conjunto de mil milhões de imagens (da ordem das indexadas pelo Google na Internet), a imagem certa seria identificada perto de 20 por cento das vezes. Ou seja, se uma pessoa escolhesse e olhasse para uma fotografia ao acaso na Web, ainda seríamos capazes de identificar essa imagem a partir da actividade cerebral uma vez em cada cinco."
Sonhos e recordações
Se fosse possível identificar sistematicamente qualquer fotografia sem ter qualquer conhecimento prévio do conjunto onde foi escolhida, aí sim, poder-se-ia dizer que o dispositivo é capaz de "ver" as imagens dentro do cérebro. Mas isso ainda não aconteceu: "Ninguém consegue reconstruir a fotografia que a pessoa viu sem conhecer o conjunto de imagens donde ela foi tirada", explicam os autores.
"Contudo, os nossos resultados sugerem que poderá haver informação suficiente nos dados da fMRI para se conseguir chegar lá no futuro." De facto, uma coisa que este trabalho mostrou é que a informação contida nos dados de fMRI é muito mais rica do que se pensava.
Os cientistas vão ainda mais longe: se se confirmar que, quando sonhamos ou evocamos mentalmente uma cena, as imagens produzidas por essas experiências mentais são processadas pelo cérebro como se fossem imagens reais, vindas do mundo exterior através dos olhos, nada impede pensar que seja possível, um dia, descodificar também essas imagens "virtuais" com o mesmo tipo de
técnica. "Desde que as medições da actividade cerebral e os modelos matemáticos do cérebro tenham a qualidade suficiente, deverá ser possível, em teoria, descodificar o conteúdo visual de processos mentais como os sonhos, a memória e o imaginário."
quinta-feira, 13 de março de 2008
Clara Pinto Correia e os transgénicos
A carta aberta de Pedro Fevereiro em resposta ao programa de Clara Pinto Correia:
A opinião de Clara Pinto Correia sobre os transgénicos
Clara Pinto Correia também afirmou que [as plantas] “…porque se reproduzem muito depressa, têm três a quatro colheitas por ano, colonizam terras rochosas, terras arenosas, etc.” e que “… se tu plantas trigo três vezes por ano…”. É preciso esclarecer que não existe no mundo nenhum cereal que tenha três colheitas por ano (em Portugal, nem sequer duas colheitas por ano), quanto mais quatro. E que as variedades geneticamente modificadas, utilizadas em 2007 por mais de 12 milhões de agricultores não têm esta capacidade.
Clara Pinto Correia diz ainda que “Para já, são uma maneira de implementar a monocultura, ou seja, a produção fica toda nas mãos de uma companhia…”. A autora da frase confunde a venda de sementes com a produção agrícola e obvia que existem várias multinacionais que desenvolvem e comercializam sementes transgénicas. Clara Pinto Correia confunde ainda o público, pois a questão da monocultura não depende da adopção das variedades transgénicas, mas da utilização em grandes áreas geográficas de uma só variedade de uma só espécie, condicionando a produção e a economia dessa região a essa escolha. Na verdade, as variedades transgénicas aumentam a possibilidade de escolha dos produtores agrícolas (dos agricultores) dando-lhes mais opções de diversificação da produção com a redução de impactos (redução do uso de pesticidas e herbicidas) e maior controlo de pragas e doenças.
Clara Pinto Correia tece ainda considerações como: “Então, vá de mandar isto para os países africanos…” referindo-se a uma “variante vegetal geneticamente modificada que lhes dá muita vitamina C”. É necessário esclarecer que em África apenas são cultivadas variedades geneticamente modificadas na África do Sul e que os relatos dos pequenos agricultores que as utilizaram demonstram que estas variedades estão a ter um impacto determinante no combate à pobreza neste País. É ainda necessário esclarecer que não foram até agora comercializadas variedades geneticamente modificadas que produzam maior teor de vitamina C.
Clara Pinto Correia prestou um péssimo serviço ao público ao emitir este conjunto de opiniões descabidas e reveladoras de um total desconhecimento quer de Biologia das Plantas, quer de Agrobiotecnologia.
É pena que o Programa A1 Ciência permita que estas declarações sejam publicadas sem nenhum esclarecimento e sem a confrontação com a realidade científica e técnica actual.
Pedro Fevereiro
(Presidente do Centro de Informação de Biotecnologia)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Arquivo de Maria de Lourdes Pintasilgo disponível na Internet
O projecto Memória na Internet de Maria de Lourdes Pintasilgo foi iniciado em II/2006, com o apoio do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, e tem como fins "garantir o tratamento técnico de parte significativa do acervo documental" de Maria de Lourdes Pintasilgo e a sua "disponibilização em suporte digital e na Internet".
Trata-se da salvaguarda e divulgação para todos dum "arquivo de relevante interesse histórico, mas também dar um importante contributo para a organização do acesso público à informação". Por ora, pode-se aceder a c. de 10 mil dos 50 mil documentos do referido acervo, estando sob reserva a documentação desde 1986, ano da sua candidatura presidencial independente.
Maria de Lourdes Pintasilgo (1930-2004) foi dirigente da Mocidade Portuguesa Feminina (1944-53), presidente da JUCF (1951-60) e do Pax Romana - Movimento Internacional de Estudantes Católicos (1956-58), responsável do movimento internacional cristão Graal (1960-69), procuradora à Câmara Corporativa no marcelismo (1969-74), ministra dos Assuntos Sociais nos II e III governos provisórios (1974/5), presidente da Comissão da Condição Feminina (1975), embaixadora na UNESCO (1976-79), primeira-ministra do V Governo Constitucional (1979/80), co-fundadora do Movimento para o Aprofundamento da Democracia (1982-85), membro do Conselho da Universidade das Nações Unidas (1983-89) e do Clube de Roma, candidata presidencial independente em 1986, eurodeputada independente pelo PS (1987-89), co-presidente da Comissão Mundial de Globalização, entre vários outros cargos. Para mais informação biográfica vd. aqui e aqui.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Manifesto em defesa do empréstimo público gratuito nas bibliotecas portuguesas
«A Comunidade Europeia aprovou, em 1992, uma directiva relativa ao direito decomodato e a certos direitos conexos de autor em matéria de propriedadeintelectual, passando as bibliotecas, museus, arquivos e outras instituições privadas sem fins lucrativos a ter que pagar pelo empréstimo público dos seus documentos abrangidos por estes direitos de autor. Depois de algumas intervenções em defesa pelo não pagamento, e lembro a famosa petição portuguesa em favor do empréstimo público gratuito nas bibliotecas, patrocinada pela BAD (Associação de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas), com 20.000 assinaturas em 2004, a situação é de condenação pelo Tribunal de Justiça da União Europeia sobre Portugal que isentou todas as categorias de estabelecimentos que praticam o comodato público da obrigação de pagar aos autores. Esta é a grande questão. Actualmente, a Assembleia da República terá que apresentar uma proposta de lei diminuindo o número de isenções ao pagamento da remuneração pelo empréstimo público de documentos. Entendo que esta normativa europeia e o decreto-lei vão contra todos os princípios que os profissionais da informação defendem e lutam, desde sempre, em apoiar a disponibilização de documentos que possibilitem a educação individual, a autoformação, a educação formal, o oferecer possibilidades de um criativo desenvolvimento pessoal, o estimular a imaginação, o promover o conhecimento e o apreço pelas artes e inovações científicas,o facilitar o acesso às diferentes formas de expressão cultural, o fomentar o diálogo inter-cultural, a assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação à comunidade, nas instituições públicas e privadas onde trabalham de forma gratuita, explícitos no Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas, no Código de Ética. Princípios defendidos internacionalmente pela IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions) e pela EBLIDA (European Association of Library Information and Documentation Associations). A missão das bibliotecas sempre foi garantir aos cidadãos o acesso livre ao conhecimento, à cultura e à informação. O papel das bibliotecas públicas, escolares, universitárias, e outras, em Portugal, nos últimos anos é inquestionável no exercício das suas missões sociais e culturais. A BAD [Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas] apesar de defender estes princípios, optou, e muito bem, por apresentar uma proposta de alteração da lei, à Comissão da Assembleia da República, no sentido de salvaguardar algumas questões, como o não pagamento de direitos de autor pela consulta presencial de documentos nas bibliotecas, o mesmo se passando com o empréstimo inter-bibliotecas e a transmissão de obras em rede. Relativamente ao empréstimo de documentos que seja pago não pelo utilizador/cidadão mas pelos organismos que tutelam as bibliotecas (Ministério da Cultura/Câmaras?), e que este pagamento não se repercuta nos orçamentos das bibliotecas.
A proposta da BAD para alterar o Decreto-Lei n.º 332/97, apresentada à Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República: circular nº8 Remuneração pelo Empréstimo Público pode ser consultada aqui.
quarta-feira, 11 de julho de 2007
Uma questão de confiança
Dispõe de mais de 20 mil entradas, organizadas em 14 grandes temas (Arte e Humanidades, Business, Computadores, Governo, Saúde, Casa e Habitação, Direito, Media, População, Referência e Informação Rápida, Lazer, Regiões do Mundo, Ciência, Sociedade e Ciências Sociais) e cerca de 300 temas relacionados. O compromisso que assume é disponibilizar um ponto de acesso bem organizado para sítios credíveis, seleccionados por bibliotecários com base em critérios de avaliação explicitados (LII Selection Criteria). Trata-se de um serviço público de grande valor acrescentado, disponível não só aos californianos, como aos norte-americanos e a todos os cidadãos do mundo com acesso à Internet.
Faz falta algo do mesmo género dirigido ao universo dos sítios em língua portuguesa. À consideração dos nossos bibliotecários!
quarta-feira, 20 de junho de 2007
Call for papers
Prisma Juridico é uma publicação anual com um setor temático dedicado a temas de Filosofia e Teoria Geral do Direito. O setor não-temático publica artigos de pesquisa em qualquer área do Direito.A revista pode ser lida integralmente neste sítio da internet:http://www3.uninove.br/mkt/prisma.php .O limite de extensão para artigos é de trinta e cinco mil caracteres(inclusive os espaços) e, para resenhas sobre obras jurídicas publicadas em 2006 ou 2007, de sete mil caracteres (contando os espaços). Os autores deverão enviá-los para o endereço prismajuridico@uninove.br .Para este volume, o tema será “Direito e princípios”.
E e' um muito bom tema. Os interessados em saber o prazo contactem a revista, quem a faz e' serio.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
Richard Rorty
Mesmo para quem nao era fan dos seus trabalhos (Achieving our country tinha piada traduzir com uma introducao dele, tentei e nunca consegui nenhum editor, agora...), o seu desaparecimento e' uma noticia triste. Ao contrario do que sucedia com Deleuze, para dar apenas um exemplo, que quando morreu ja' tinha atra's de si o essencial da sua Obra, de Rorty era sempre possivel esperar algo novo. Havera' ineditos?
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Celebrar Portugal, hoje
Todos os anos recebo mensagens inteiramente gratuitas, movidas a emocao pura a pesar de escritas por academicos, relacionadas com a data. Em comum, serem escritas a partir de outros paises (maxime, Brasil). Mas so’ este ano (ontem...) passei o dia nacional fora de Portugal – onde ele se comemora realmente. Nao em Londres, que na descricao do post de ontem no ladoA coincide com o que o Daniel Melo escreveu num artigo recente na revista do Instituto Diplomatico. Passei o dia na parade de Newark, a maior comunidae portuguesa da costa leste americana, com almoco oficial incluindo cobertura televisiva (SIC e RTP). Esteve presente o Mayor de Newark, feito honorary grand marshall, toda a gente que e’ gente na comunidade portuguesa, os ocasionais de passagem como eu, e uma trupe politica de Direita (Manuela Aguiar, Luis Filipe Menezes, Martins da Cruz), acompanhada de outra de autarcas (a estrela foi Avelino Ferreira Torres) e uma secretaria de Estado a compor o ramalhete. A artista convidada para rainha da parada foi Luciana Abreu – a Floribella.
Algum calor, demasiada gente, todas as lojas abertas, mistura geral com brasileiros (em numeros crescente e com as mesmas tensoes que se sabe em Portugal) e porto-riquenhos, cuo dia nacional tambem se celebrava ontem (com parade na 5ª avenida da Big Apple). No meio do desfile, uns gaiteiros escoceses, militares, policias e bombeiros americanos, muita publicidade pouco encapotada e sei la’ eu que mais. Frango e sardinha a assar na rua, fila enorme para as farturas, barulho ensurdecedor. Na verdade, algo entre um arraial nortenho de Verao, um desfile tipicamente americano e um Carnaval de Torres Vedras.
Nao ha’ comparacao possivel com o 10 de Junho em Portugal. Nem com nenhum outro feriado nacional: uma verdadeira festa popular, alias estendendo-se ao longo de varios dias (as ruas ja’ estavam paramentadas em Maio). Ja’ nem falo das tristes cenas encenadas por PCP e BE no 25 de Abril (e tambem ontem, se bem percebo), nem na crescente insignificancia do 1o de Maio (como o teste da greve geral parece ter provado). Falo da secularizacao dos feriados religiosos feita segundo o modelo hedonista, de que a Pascoa e o Natal sao os melhores exemplos. Nada neles se compara ‘a genuina festa popular (do povo como ele e’ e nao como o pintam) que o 10 de Junho dos emigrantes e’. Nao admira que se sintam marginalizados em Portugal, sentem o pais com muito mais emocao (talvez por nao terem de la’ viver...) do que os outros.O 10 de Junho, o unico feriado vivo dos portugueses, deveria passar a ser designado por dia das comunidades portuguesas emigrantes –e pronto. Mas talvez elas nao o quisessem, o que nao seria de estranhar e so’ lhes fica bem...
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Publicidade institucional
«A construção da nação e o fenómeno associativo na diáspora portuguesa: perspectivas comparadas» (simpósio internacional coordenado por Daniel Melo e Eduardo Caetano da Silva), no ICS-UL. Dia 24, exibiçãod e documentário na sala de aulas 3 do ICS; dia 25, das 9.30 às 17.30, comunicações na Sala Polivalente.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Portugal (?) então
«Ralph Fox, Portugal Now – Um espião comunista no Estado Novo, edições Tinta da China, Lisboa, 2006 (com prefácio de José Neves)
Este pequeno livro é uma raridade mesmo no seu país de origem. No último Outono tive de o procurar nos catálogos suplementares (isto é, por informatizar, logo semi-abandonados) de uma das maiores bibliotecas universitárias – e depósito legal – de Inglaterra para o encontrar. Até por este lado semi-clandestino, sete décadas após ter sido escrito (1936) e publicado (1937), o relato da viagem de Ralph Fox por Portugal é uma tradução digna de nota na actividade editorial portuguesa de 2006.
Pequeno na sua extensão (125 páginas bem espaçadas e ilustradas na edição portuguesa), o livro de Fox, na sua origem uma série de artigos para a Imprensa inglesa, não é particularmente interessante pelo que diz de Portugal. O subtítulo da edição portuguesa, jogando com o tom romanesco da escrita, refere-se ao autor como ‘espião comunista’, mas, a tê-lo sido, não o foi nesta viagem. O Portugal de Fox é Lisboa, com o salto da ordem até ao Estoril, comentando o lado mais visível da vida urbana e de classe média-alta local, à época bem cosmopolita com a proximidade da Guerra Civil em Espanha. O motivo directo da viagem foi, aliás, esse, o de visitar a retaguarda da Guerra Civil de Espanha e dar notícia daquilo a que Fox se refere como ‘a Nova Europa’, a Europa do Fascismo em ascensão. Isto dá ao tom do livro um certo travo dúplice, pois o contraponto entre esta nova Europa, combatida pelo autor, e a velha Europa, que em rigor Fox também não estima (a burguesa, demoliberal, mergulhada em crise desde a I Guerra Mundial), deixa na sombra o modelo comunista, ou mais exactamente soviético, pelo qual Ralph Fox se batia.
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quarta-feira, 9 de maio de 2007
Do (in)determinismo genético
Na minha opinião esta discussão debate-se a dois níveis que não devem ser confundidos. Primeiro a questão de saber se a característica A ou B é um produto exclusivamente de genes é uma questão técnica/científica. Isso não quer dizer que só especialistas em Genética possam debater o assunto, pelo contrário, todos devem debater. Mas o plano de discussão é científico, quer isso dizer que havendo dados empíricos que indicam que uma característica é determinada geneticamente há que averiguar se os dados corroboram as conclusões, se a metodologia utilizada é correcta, se existem outros dados que os contradigam. O que não pode acontecer é recusar os dados existentes baseado numa opção ideológica, não acreditar nas evidências por não querer acreditar. Se, por exemplo, um trabalho sugere que a homossexualidade tem uma forte componente genética (como este artigo faz), é fazendo uma crítica metodológica que podemos - ou não - discordar, não se pode recusá-lo por uma questão "de princípio".
Depois há um segundo nível de discussão que é ético, moral, e também político. Construindo sobre o conhecimento científico (sem esquecer que este não é nunca definitivo nem imutável), importa discutir como se posicionar relativamente a esse conhecimento. Pegando novamente no exemplo da homossexualidade, e fazendo o exercício de aceitar que ela é determinada geneticamente (actualmente longe de estar provado), temos pelo menos duas atitudes possíveis: uma será de considerar que a homossexualidade é uma anomalia genética, outra é de aceitá-la como parte natural da diversidade genética humana. A questão aqui não é de saber se a homossexualidade é genética, mas de como reagir perante a descoberta que ela é efectivamente Genética.
No primeiro nível de abordagem, o técnico/científico, importa saber se há razões para pensar se aquilo que somos é determinado geneticamente. A questão não é simples, porque depende de saber de que característica em concreto estamos a falar. Por exemplo a cor dos olhos é determinada geneticamente (a não ser que consideremos as lentes de contacto como um factor ambiental). Mas ser determinado geneticamente não significa que há UM gene responsável por essa característica, há pouqíssimos exemplos disso e os que me lembro são doenças (a fibrose cística, a paramiloidose). Geralmente são vários genes contribuem para uma determinada característica, o que torna logo muito mais complicado uma abordagem determinista: se são vários os genes envolvidos, cada indivíduo pode ter uma combinação diferente desses genes, e cada combinação dá um resultado diferente, ou seja cada caso é um caso. Mais ainda, um mesmo gene geralmente contribui para inúmeros processos diferentes, ou seja influencia várias características, o que resulta numa combinação de combinações. O determinismo genético torna-se já dificilmente sustentável, mesmo sem levar em conta a influência de factores ambientais. Pode sempre argumentar-se que é apenas uma questão de limitação dos conhecimentos em Genética, e que com o aprofundar desses conhecimentos o determinismo tornar-se-á possível.
Consideremos então os factores ambientais. Como já referi depende do que estamos a falar, cada característica pode ter uma influência maior ou menor (ou nula mesmo) de factores ambientais. Tentar saber se aquilo que somos globalmente é o produto de factores genéticos ou ambientais é uma questão inabordável e ao mesmo tempo insuficiente. Obviamente que somos o produto de ambos. Mas haverá um modelo global que emerge que explique como factores ambientais e genéticos influenciam aquilo que somos? Na minha opinião sim, mas nunca vendo o resultado final como uma simples soma aritmética de factores ambientais mais factores genéticos. Dando como exemplo a obesidade: dois individuos com o mesmo regime alimentar podem ser um obeso e o outro não, tal como dois gémeos idênticos com dois regimes alimentares diferentes pode um ser obeso e o outro não. Olhando só para o primeiro exemplo diremos que a obesidade é determinada geneticamente, olhando só para o segundo diremos que é determinada por factores ambientais. O paradigma que me parece emergir dos avanços recentes na Genética resolve este paradoxo. Um individuo não é um produto apenas dos seus genes, nem sequer uma soma aritmética da influência dos genes e do ambiente. Um indivíduo é o resultado de uma interacção entre os genes e o ambiente, em que um e outro desempenham papeis diferentes. O papel dos genes é o de determinar os mecanismos pelos quais o indivíduo vai interagir com o ambiente, e o ambiente é uma entidade exterior ao indivíduo que este não pode controlar mas ao qual se pode adaptar. No exemplo da obesidade, os genes não determinam se um indivíduo é obeso, mas determinam sim o seu metabolismo. Se um indivíduo com um metabolismo que tende a armazenar calorias tiver uma dieta rica então será obeso, mas pode sempre adaptar-se alterando a sua dieta. A forma de digerir e a metabolizar os nutrientes é o mecanismo pelo qual o organismo interage com o ambiente, e é determinado geneticamente.
Apetece-me citar o exemplo da inteligência, que é seguramente mais controverso e mais complexo. Controverso e complexo logo para começar porque a inteligência como objecto não está suficientemente definido, é circunstancial. O que para "nós" numa sociedade urbana ocidental é inteligente não é a mesma coisa que um Ameríndio no meio da selva amazónica considera inteligente. Logo enquanto objecto mensurável, para que possamos dizer A é mais inteligente que B, a inteligência está longe de ser establecida. Mas deixemos de lado esta "pequena" limitação, e vamos partir do princípio que a nossa noção intuitiva de inteligência é consensual, e objecto passível de estudo e mensurável. Não existe qualquer evidência que apoie a ideia de que a inteligência é determinada geneticamente, ou seja não foram encontrados genes que possam influenciar a maior ou menor inteligência de uma pessoa. Isso não quer dizer que não venham a ser encontrados tais genes no futuro. Por outro lado a Developmental Neurobiology já encontrou inúmeros genes responsáveis pela arquitectura do cérebero. O desenvolvimento do cérebro como estrura regionalizada, com telencéfalo, hipocampo, córtex prefrontal, e mais uma data de palavrões técnicos, é determinado geneticamente, e ocorre na sua quase totalidade antes do nascimento. Digamos que o desenho da "máquina", do "hardware" é determinado geneticamente, mas isso não faz uma pessoa inteligente, é preciso o "software". Claro que também é preciso que a "máquina" funcione, senão dá um grande "crash", mas isso é o que acontece com as doenças neurodegenerativas por exemplo. Numa situação em que não há uma condição patológica, o factor genético, o tal desenho da máquina não é o factor limitante (atenção que isto não é um dado científico, é apenas uma opinião pessoal, como tal discutível). O tal factor genético quando muito determina um potencial máximo do funcionamento do cérebro, logo da inteligência, mas esse potencial máximo é largamente excessivo relativamente a utilização efectiva que fazemos do cérebro. Mal de nós se algum dia antigirmos a capacidade máxima do nosso cérebro, seria assim como um computador que com o processador e o disco rígido cheios: "crasha", o que suponho seria algo parecido com uma doença de Alzheimer. Penso portanto que toda a evidência indica que o factor genético embora determine o desenvolvimento do cérebro não é limitante quanto à determinação da inteligência. Essa na realidade vai depender do uso que se fizer do cérebro, dos factores ambientais afinal.
Passando ao segundo nível de abordagem: quais as consequências éticas, morais e políticas dos conhecimentos actuais da Genética?
O maior perigo a este nível é o de atribuir um juízo valorativo aos genes. Pelo menos tem sido esse o erro que se tem repetido vezes sem conta ao longo dos tempos (é um perigo que já existia muito antes do nascimento da Genética enquanto Ciência). E é um erro que não é científico, e não vem necessariamente dos cientistas. Atribuir um juízo valorativo aos genes, dizer que um gene A é melhor que um gene B é um erro porque é fundado no preconceito. Foi esse preconceito que levou ao aparecimento do eugenismo. E o perigo é que o preconceito vem disfarçado de verdade científica, e é essa fraude que é necessário desmontar. Este juízo de valor, não é nem pode ser científico pela simples razão que a noção de superioridade é subjectiva, logo não pode nunca ser o produto de uma análise objectiva.
O eugenismo como teoria - que convém lembrar teve muitos adeptos para além do regime nazi - surgiu tendo por objectivo seleccionar uma "raça" geneticamente superior. Esta noção de superioridade, na minha opinião, é um sucedâneo moderno do essencialismo. O essencialismo, no conceito de Platão e Aristóles, estabelece que um indivíduo não é senão uma representação imperfeita da sua essência. No caso do Homem, existe uma essência de Humano, da qual cada um de nós é uma materialização necessariamente imperfeita. Desta noção de essência deriva o conceito de pureza, e da pureza a superioridade. Esta visão nega completamente qualquer noção de diversidade, e estabelece um ideal de pureza, a tal essência, como padrão a que todos os indivíduos estão subordinados. Contudo definir concretamente em que consiste esse ideal de Humano, essa essência, é obviamente uma determinação subjectiva e arbitrária, mas é apresentada pelos eugenistas como uma evidência científica, quando não axiomática. Ironicamente, mas sem que daí se possa inferir qualquer noção de superioridade de sentido contrário, o estudo da Genética de Populações sugere-nos a diversidade é um factor positivo na sobrevivência de uma população ou de uma espécie. Uma hipotética "Raça Pura", monolítica, e sem diversidade genética teria uma forte probabilidade de tender para a extinção a curto prazo.
O debate sobre determinismo genético é particularmente importante e controverso no que respeita ao comportamento, e espeicalmente o comportamento humano. Nos anos 1970 surgiu a Sociobiologia, uma teoria que pretendia aliar o estudo do comportamento com a Evolução Biológica. Embora muito meritório como movimento científico, caiu no erro de um determinismo genético diferente do eugenismo. Sendo que a evolução é o resultado da transmissão de genes de uma geração à seguinte, a Sociobiologia tenta explicar comportamentos conservados evolutivamente exclusivamente numa base genética. No que toca à espécie humana esta visão despreza a transmissão de comportamentos culturalmente. Negligencia que os genes podem determinar não os comportamentos em si, mas um sistema nervoso capaz de transmitir comportamentos culturalmente. Como pode ler-se na página linkada ali em cima (destaque meu):
According to many critics of human sociobiology, standard sociobiological models are inadequate to account for human behavior, because they ignore the contributions of the mind and culture. A second criticism concerns genetic determinism, the view that many social behaviors are genetically fixed. Critics of sociobiology often complain that its reliance on genetic determinism, especially of human behavior, provides tacit approval of the status quo. If male aggression is genetically fixed and reproductively advantageous, critics argue, then male aggression seems to be a biological reality (and, perhaps, a biological ‘good’) about which we have little control. This seems to be both politically dangerous and scientifically implausible.
O eugenismo na sua forma original, como procura de uma raça superior, e de uma forma de pureza não tem hoje muita expressão. Foi abandonado após os excessos cometidos pelo regime nazi. No entanto tem ainda influência numa certa maneira de olhar para os avanços modernos na Genética, em particular com aplicação à Medicina. O "truque" moderno é substituir a noção de pureza por normal, e a inferioridade por doença. Relembre-se as declarações de Sarkozy durante a campanha eleitoral para as eleições francesas, afirmando-se convicto de que "se nasce pedófilo" e que o suicídio de jovens se deve a "uma fragilidade genética". Esta é a versão moderna do eugenismo, e que normalmente não vem da comunidade científica. Quando se ouve declarações destas convém desde logo verificar se estas afirmações têm suporte empírico, o tal primeiro nível do debate que referi no início. Não deixa de ser sintomático que no exemplo de Sarkozy foi a própria comunidade científica que esteve na primeira linha das críticas, precisamente porque não há a mínima evidência para estas afirmações. Convém também ter em atenção o que é considerado como doença ou anomalia, porque é uma fronteira ténue, difícil de manter uma definição objectiva. Aí reside também o perigo, mesmo que uma dada característica seja determinada geneticamente não é necessariamente uma anomalia segundo critérios objectivos, mas pode ser considerada como tal por razões morais ou ideológicas.