sábado, 21 de abril de 2007

Do (in)determinismo na Ciência

Vou tentar alinhar umas ideias em resposta ao post do Carlos Leone sobre determinismo (ali mais abaixo), e vou referir-me especialmente ao determinismo na Ciência, sobretudo nas Ciências Naturais. Para um outro post fica o determinismo genético (que aliás foi o que começou este debate). Comece-se por especificar sobre o que falamos quando falamos de determinismo. Para o Calos Leone é o seguinte:

Por determinismo refiro-me à tendência do pensamento para coagir a liberdade de acção a um modo único (pelo menos a um único modo válido), geralmente através de uma argumentação aparentemente lógica.

Segundo a Wikipédia é:

Determinism is the philosophical proposition that every event, including human cognition, decision and action, is causally determined by an unbroken chain of prior occurrences.

Eu prefiro a da Wikipédia, e é a que vou adoptar para este post. A de Carlos Leone, a meu ver confunde determinismo com pensamento único. Apesar de muitas vezes um pretenso determinismo ser usado como pretexto para tentar impôr um pensamento único, são duas coisas diferentes. Tentar "coagir a liberdade de acção" é uma forma de ditadura, não de determinismo. Por outro lado o pensamento único per se não é um problema, acontece muitas vezes em Ciência (e noutras formas de pensamento), quando por exemplo as evidências em favor de uma teoria são consensuais, e essa teoria é aceite de forma generalizada. Nesses casos é absurdo estar a propôr teorias alternativas sem qualquer suporte, apenas por princípio de salvaguarda da diversidade. Se a argumentação determinista é aparentemente lógica, importa saber se é realmente lógica ou se o é apenas aparentemente, e se fôr este o caso há que desmontar as falhas de lógica nessa argumentação. O problema é quando esse pensamento único é imposto por coação e não como o resultado natural e normal de um debate livre de ideias, mas isso é outra questão independente do determinismo.

Em Ciências aceitando a permissa naturalista de que todos os fenómenos naturais têm uma causa natural (para mais sobre o assunto ver este post do Santiago no Conta Natura, e os links incluidos), pode chegar-se ao determinismo. Conhecendo as causas de um qualquer fenómeno, as condições iniciais e o mecanismo que o rege, então podemos prever com exatidão, sem margem para erro, as consequências, e todo o desenrolar futuro desse fenómeno. Essa era a visão do Universo que emergiu da Física de Newton, o Universo era um relógio suiço cuja compreensão estava ao alcance do homem. Essa visão levou Lord Kelvin, no fim do séc. XIX, a afirmar que a Física como Ciência estava acabada, e o trabalho dos Físicos seria apenas o de juntar casas décimais às variáveis já conhecidas, o conhecimento total dos mistérios do Universo era apenas uma questão de tempo. Restavam apenas duas nuvens a encobrir o céu deste belo panorama determista, essas duas nuvens transformaram-se na Física Quântica e na Física Relativista, e deitaram por terra a Física Newtoniana e o seu determinismo. Em rigor não foi o determinismo em si mesmo que foi enterrado, mas sim a visão determinista do Universo.

Há uma diferença talvez subtil, mas absolutamente crucial, entre determinista e determinável. Por um lado podemos continuar a imaginar o Universo, com tudo aquilo que o constitui, desde das Galáxias às sinapses, e à cognição humana, como um produto de fenómenos relacionados entre si por mecanismos de causa-efeito, segundo as leis da Natureza. Um Universo em que tudo tem uma causa e uma consequência contidas nesse mesmo Universo, o que equivale a dizer que o Universo contém já encriptado em si próprio o seu futuro. Dito de outra maneira, o futuro do Universo não é senão a consequência determinista do seu estado actual e das leis da Natureza. Como diria Einstein "Deus não joga aos dados". Por outro lado há a questão de saber se o espírito humano pode ter acesso à realidade do Universo, e se pode determinar rigorosamente e prever o comportamento desse Universo. O princípio da incerteza de Heisenberg diz-nos que não, e estabelece que é fundamentalmente impossível ao observador determinar o objecto sem alterar o estado desse mesmo objecto. Não se trata de uma questão de subjectividade do observador, mas de uma impossibilidade física. A estocado final no determinismo.

Dando um exemplo concreto para distinguir determista de determinável: o lançamento de um dado. Quando lançamos um dado podemos obter um qualquer número de 1 a 6, de forma aleatória. Mas essa aleatoriedade é-o apenas do ponto de vista (limitado) do observador humano. Quando lançamos o dado e sai 3, é porque tendo em conta a massa do dado, a sua posição inicial, o seu centro de gravidade, a força/velocidade com que é lançado, o movimento de rotação, o ângulo de embate na mesa, a elastidade desse choque, a distância percorrida, e mais algumas variáveis que não menciono por ignorância, então o resultado só poderia ser 3. Outra questão é saber se o observador poderia ter feito todas essas medições de forma suficientemente rigorosa, e se conhece as leis da Física o suficiente para calcular o resultado antecipadamente. Se o observador disser que o dado lançado de deteminada maneira vai sair 3, e se for esse o resultado conseguido, então estamos perante um fenómeno determinista. Dado que cada medição que fazemos tem uma margem de erro associada e quando fazemos o produto das várias medições, cada uma com o seu erro, o somatório dos erros, que as mais das vezes se relacionam de forma não-tlinear, torna a previsão determinista do fenómenos impossível. Mais ainda quando, conforme o princípio da incerteza, a obsevação altera o objecto, e já não estamos a observar o objecto ele mesmo mas o resultado da nossa interacção com esse objecto.

Façamos então esta distinção entre o determinismo do fenómeno observado e o pensamento determinista, i.e. a ideia de que o obsevador pode aceder ao determinismo próprio do fenómeno observado. Se chamarmos agora determinismo ao pensamento determinista, já nos aprocimamos mais da definição apresentada por Carlos Leone (mantendo a crítica feita acima). Nesta prespectiva discordo em absoluto que na Ciência haja hoje em dia um pensamento determinista.

Segundo Carlos Leone (ainda no mesmo post):
Numa fórmula: o determinismo científico actual, aplicado ao processo de decisão humano, reduz o hardware (ser humano no seu meio social) ao seu software (processos mentais actualmente identificados) ou, mais exactamente, ao uso desse software (às consequências verificadas do seu uso). E quem diz sinapses, diz genes, claro; quem ler literatura científica de há 100 anos verá como os «micróbios» e os «germes» explicavam tudo o que não se sabia, como hoje os «vírus» servem ao pessoal de informática...

Discordo em absoluto desta "acusação". Os cientístas estão bem conscientes da diferença entre o determinismo e o determinável, e conhecem bem as limitações do seu trabalho. Os cientistas tentam naturalmente explicar os fenómenos que observam à luz dos seus conhecimentos, e é natural que tenham uma visão mecanicista da natureza e em particular do ser humano (visão que eu partilho), o que é muito diferente dum pensamento determinista. Para além do mais a expeculção também faz parte do trabalho do cientista, e é por vezes mal interpretada fora da comunidade científica (há um problema de comunicação, e volto já mais à frente). O debate científico destes assuntos faz-se aliás, em geral utilizando uma muito grande relativização. E muito importante para esta discussão, não conheço exemplos nenhuns de "coacção" (utilizando o termo de Carlos Leone), mesmo quando as divergências são profundas e o debate é aceso. E até gostava de saber concretamente (fundamentado com exemplos) o que Carlos Leone entende por "determinismo científico actual". A título ilustrativo veja-se este editorial da PLoS Biology. Fala de Evolução e Medicina, seria um assunto onde se poderia esperar que a tal visão determista aparecesse em força, mas bem pelo contrário. Repare-se como é usada uma linguagem que relativiza as várias prespectivas, e são expostos vários pontos de vista divergentes. Acreditem que em geral (mas muito geral mesmo) o debate científico se passa nestes termos.

Por vezes - admito - muitas vezes mesmo, não é essa a imagem que passa para fora da comunidade científica. O problema, nestes casos, é de divulgação e informação científica, e as responsabilidades repartem-se igualmente pelos intervenientes. Os jornalistas muitas vezes não fazem um bom trabalho (como já foi aqui referido), não querem saber de relativizações do trabalho dos cientistas, querem descobertas cheias de certezas, numa linguagem que toda a gente perceba (ao arrepio do rigor científico), e no fim uma boa cacha para vender jornais. Resultado todas as semanas temos uma nova cura para o Câncro. Mas os Cientistas colaboram também, por vezes são eles próprios quem simplifica excessivamente, e quem não relativiza, têm um discurso dentro da comunidade científica e outro fora. E talvez até o próprio público em geral não esteja interessado noutra coisa por parte da Ciência que não as descobertas e as certezas absolutas. Por tudo isto parece-me que por vezes se projecta a imagem do Cientista com um discurso determinista, do tipo "é assim porque a Ciência pode prever com exactidão que vai ser assim". Mas neste caso o verdadeiro problema é um problema de comunicação.

Globalmente a Ciência não tem nem pode ter uma visão determinista - ou melhor - um pensamento determinista sobre os seus objectos de estudo. Se a Ciência, cujo estudo é sujeito a critérios de rigor, de objectividade, que obdece a um método (o que quer que isso seja) não pode assumir um postura determinista, muito menos se pode assumir essa postura fora da Ciência. Em questões de ideologia ou mero senso comum fazer afirmações deterministas é simplesmente absurdo, e muitas vezes perigoso, é um acto de fé que não provém de nenhuma análise racional de um mecanismo de causa-efeito, e como tal não é aceitável. E aqui convirjo com o Carlos Leone sobre o perigo que são os raciocínios deterministas, particularmente em questões de ideologia. Um exemplo muito importante desses determinismos perigosos é o Historicismo (presente no Marxismo, e criticado por Popper).

Dito isto, há exepções que convém ter em conta. Talvez nem sejam sequer excepções. Simplesmente há situações em que o pensamento determinista é legítimo. Por exemplo quando largamos uma maçã podemos afirmar que deterministicamente que a maçã vai cair em direcção ao chão, e não ao tecto. Há fenómenos que podemos prevêr de forma determinista. Isso leva a concluir que a simples acusação de determinismo como argumento a priori seja uma vacuidade, não tem valor em si mesmo. Um qualquer argumento determinista que seja ilegítimo deve ser desmontado pela explicação do porquê dessa ilegitimidade, e nunca com um simples arremesso dum "isso é determinista, ponto-final". Porque se assim fôr esse arremesso funciona simplesmente como o simétrico do argumento determinista inicial. Resulta numa tentativa de limitação idêntica da liberdade de pensamento, apenas de sinal contrário.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Sobre o desemprego dos licenciados

Agora menos polémica e só análise. Vamos pensar colocar entre parênteses a questão da população desqualificada e centrar atenção sobre os licenciados desempregados ou sub-empregados. Lembro-me que há uns tempos, no meio de outra polémica com outros peões, já tinha escrito que, se quisessemos prosseguir a discussão sobre esta matéria, então iríamos (ou iria eu) desembocar na questão da «liberalização dos mercados, neste caso dos serviços, pela óbvia razão porque é neste sector que a maioria dos licenciados procura emprego; é que: mercados fechados = maior desemprego».

Se isto estiver certo, então a argumentação do BE - agora independentemente a quem ela serve e que tipo de pessoas representa, etc. - pode revelar-se contraproducente. Na medida em que existe desemprego licenciado - com as características particulares a que tenho vindo a aludir desde há muito -, e na medida em que está fora de questão o Estado resolver o problema absorvendo estas pessoas em massa, resta tentar perceber como é que o mercado podia incorporar estas pessoas nas áreas para as quais elas se qualificaram. E aqui, o argumento a favor da liberalização e da abertura da economia é um argumento forte; isto é, muitas coisas apontam para que uma menor regulação do mercado de produtos (e eventualmente de certas regiões do mercado de trabalho, mas isto aqui é mais duvidoso porque já existem mecanismos contratuais flexíveis o suficiente) ou medidas que incentivam ao investimento estrangeiro viessem a favorecer estas pessoas e dar-lhes mais oportunidades.

A ser verdade - e há vários estudos que apontam para estas tendência, desde trabalhos que defendem que as empresas que mais valorizam o capital humano dos profissionais são aquelas que se movem em mercados e fazem face à concorrencia internacional*; que o efeito da educação no crescimento do PIB é mais forte nas economias mais abertas**; que o Estado, por ser um grande empregador dos recursos mais qualificados do país, perverte o funcionamento dos mercados que exigem mao-de-obra mais qualificada, protegendo os insiders com óptimas condições mas deixando à porta os outsiders, entregues a um mercado que o Estado muitas vezes não deixa funcionar (sendo que este mesmo Estado só tem dinheiro para pagar os salários dos insiders, e nenhum para albergar os outsiders)***, etc. - então estamos perante uma espécie de comédia de erros, em que um partido como o BE apoiará medidas mais proteccionistas que são ou impossíveis ou nefastas para os que pretende representar, enquanto que os seus potenciais votantes, descontentes com a sua situação laboral e com a presente incapacidade de retirar da formação que fizeram todos os rendimentos que pensavam ser possível tirar, deviam, em interesse próprio, apoiar um partido que defendesse a reforma do Estado e a progressiva abertura da economia, que lhes traria mais hipóteses de encontrar emprego em empresas que necessitam de mão-de-obra qualificada.

* Dessus, S. (1998), Analyses empiriques des Déterminants de la Croissance à Long Terme, thèse de doctorat en sciences économiques, Université Paris - I
** Maurin, E., et al. (2003), «Mondialisation des échanges et emploi: le rôle des exportations», in Économie et Statistique, nº363-365, pp.33-44
*** Gelb, A. et al. (1991), «Public sector employment, rent seeking and economic growth», in Economic Journal, 101, p-1186-1199.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Peões por Lisboa: propostas concretas para a cidade

Este texto dos peões Zèd, Daniel Melo, Hugo Mendes e Renato Carmo foi publicado originalmente em vários posts no ‘lado a’ deste blogue, entre 20/II e 6/IV/2007.
O conteúdo aqui reproduzido é uma selecção dos contributos então apresentados, tanto em termos de posts como de comentários aos mesmos.
Foi enviado para o projecto Lisboa Ideal, iniciativa conjunta das associações culturais Alkantara e ZDB- Galeria Zé dos Bois.

Peões por Lisboa - Propostas concretas (I): transportes públicos, circulação, interfaces e logística
“Respondendo ao repto do Renato
neste post, a que se seguiu uma troca de comentários, aqui vão as minha primeiras propostas para um programa por Lisboa. As primeiras ideias que me ocorrem são na área dos Transportes. Há demasiados carros, é preciso melhorar os transportes públicos e desencorajar o uso dos carros.
- Por exemplo, os comboios das linhas de Sintra, Cascais, e da Azambuja deveriam deixar de ser administradas pela CP, e ser administradas conjuntamente com o Metro (e talvez se pudesse juntar ainda a Carris). Uma gestão conjunta seria mais eficaz, e nem que seja só em termos de imagem, fazendo parte da mesma unidade os utentes usam mais facilmente as interfaces metro/comboio. Facilitaria também a construção de novas dessas interfaces no futuro. A rede de metro e comboio passaria a ser verdadeiramente, uma rede, o que incentiva os passageiros a usá-la mais frequentemente. Esta proposta ultrapassa as competências estritas da CML, teria que envolver além da CP e do Metro, o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, a Junta Metropolitana de Lisboa, e provavelmente outras entidades, mas deveria partir de uma iniciativa da CML.- A linha de Cascais deveria ser ligada à linha da Azambuja em Alcântara Terra, com tantos comboios a fazer Cascais - Cais do Sodré como a fazer Cascais - Azambuja. Assim seria feita uma ligação da linha de Cascais a Entrecampos, sem precisar de usar pela passagem Alcântara-Mar Alcântara-Terra, que não é lá muito conveniente. Isto implicaria fazer alguns túneis na Av. da Índia, mas a linha férrea já existe, simplesmente está reservada para usos excepcionais. Tal como a proposta anterior isto iria envolver outras entidades, mas a iniciativa deveria ser da CML.
- Limitar a entrada de carros particulares em Lisboa. Uma possibilidade é simplesmente a criação de uma portagem em todas as entradas de Lisboa, transportes públicos estariam isentos. Talvez se pudesse limitar aos dias de semana e a determinadas horas, de qualquer modo já existem alternativas de transporte que justifiquem uma medida severa para desencorajar a entrada de carros na cidade.” (Zèd)
Sugestões específicas complementares avançadas por outros bloggers peões:
- reforço do sistema de park & ride: parques de estacionamento de veículos particulares que funcionam como locais onde se apanham de imediato os transportes públicos que os levam para dentro da cidade (Hugo Mendes);
- reforço da qualidade da oferta da CARRIS via mini-bus em bairros com menor frequência e concentrada (p.ex. para Telheiras, Castelo, Penha de Fr., etc.), paragens obrigatoriamente com protector anti-chuva (ide à Alta do Lumiar e nem acreditais no que vedes), reforma global dos n.ºs das carreiras (não se percebe a variação entre 1 e 3 dígitos quando só há umas dezenas de carreiras diferentes) e aumento de faixas bus (Daniel Melo);
- reforço dos eléctricos, muito menos onerosos que a construção de linhas de metropolitano (Daniel Melo);
- melhoria das estações do ML: retirada da poluição sonora e visual do Metro, sobretudo o ruído oriundo das tvs (Daniel Melo);
- proibição de estaleiros de obras de prédios por muito tempo, que só agravam a circulação (Daniel Melo);
- enquadramento das linhas e ligações (geridas por diferentes empresas) à escala da Área Metropolitana, remetendo para o ordenamento de território pensado numa escala regional e não só local (Renato Carmo).

Peões por Lisboa - Propostas concretas (II): regulação e circulação rodoviária, transportes e serviço público
“Este debate sobe a questão dos transportes está interessante. O Zed avançou com algumas propostas concretas, uma delas razoavelmente polémica, que seria uma espécie de portagem à entrada de Lisboa para desencorajar o uso de carros. Isto já existe em Londres, e chama-se congestion charge (introduzida em Fevereiro de 2003, reduziu após 2 anos depois o volume de tráfego na cidade na ordem dos 30%, mas é ainda controversa junto de muitos). Eu não sei se isto funcionaria em Lisboa, que é uma cidade bem mais pequena que Londres, e com transportes públicos cuja qualidade deixam provavelmente muito a desejar - senão para os que viajam dentro da cidade, pelo menos para os que fazem todos os dias um trajecto de e para fora da cidade de Lisboa para os arredores. Suponho que a diferença de qualidade se deva em boa parte ao facto de os operadores em Londres serem privados e terem incentivos para melhorar o serviço (falo dos autocarros e comboios; o metro é ainda propriedade pública). O Estado age como regulador.
Sem querer entrar numa polémica estéril sobre a questão do «Estado vs. Mercado», parece-me lógico que, qualquer que seja a solução - e elas serão sempre várias -, ela passará pela abertura de novos mercados, e pela parceria entre o sector público e privado sem que isso signifique privatização no sentido restrito da palavra. O que deve ser aqui a prioridade é a qualidade do serviço e a liberdade de escolha que ele oferece ao consumidor médio, por um lado, e ao consumidor com menos recursos, por outro. Se o mercado tomará em princípio conta do primeiro, o Estado deverá olhar pelo segundo. Isto significa que o Estado deve regular a competição e financiar certos sectores sem ter que possuir e pagar autocarros e comboios, mais os salários de gestores e restantes trabalhadores. Há quem fique muito preocupado com a entrega destas coisas ao mercado; eu gostava era que ficassem realmente preocupados com coisas
destas.
Dito isto, não há panaceias para resolver este problema, e as medidas terão que ser sempre parciais e bem articuladas. Há esquemas interessantes que valeria a pena explorar. Por exemplo, vi em Lyon (que é uma cidade sensivelmente da mesma dimensão de Lisboa, com cerca de meio milhão de habitantes intramuros, e praticamente 2 milhões na área metropolitana) em Setembro do ano passado uma solução interessante, apesar de não ter tido ocasião para conhecer por dentro o seu funcionamento. Provavelmente é um sistema que existe em outras cidades e não prima necessariamente pela originalidade (quem conhecer esquemas semelhantes noutras cidades, diga), mas pareceu-me ser engenhoso. Era uma espécie de serviço público de aluguer de bicicletas (e digo «público» pela amplitude de pessoas que serve, não pela questão da propriedade - ao contrário do que provavelmente pensa o Renato, eu acho que nestas coisas dos serviços a regulação é crescentemente a questão central, não a propriedade - uma discussão para aprofundar noutra altura); as pessoas tinham um passe que lhes permitia levantar uma bicicleta num dado parque público, levá-la para outro ponto da cidade, e parqueá-la noutro espaço. Depois de ir à sua vida, outra pessoa podia usar a mesma bicicleta, e assim sucessivamente. Não sei exactamente como era pago o serviço; se o critério era o n.º de kms percorridos, se a quilometragem era irrelevante e se se pagava o passe ao mês, etc. Não sei, e se calhar até há vários critérios.
Agora, imagine-se isto para os carros. Já há, li algures, em vários países o que chamam club-sharing cars, muitas vezes associados a novos desenvolvimentos residenciais. Estes clubes alugam carros a preços muito mais baixos do que os do costume (que são basicamente para turismo, e por isso sao caríssimos) e fornecem uma alternativa a pessoas que têm carro mas apenas o usam de vez em quando ou usam-no apenas porque o têm. Se tivessem uma alternativa interessante, podiam efectivamente dispensá-lo. As pessoas compram um season ticket e usam o carro quando lhes apetece. Os estudos que existem sobre isto afirmam que este tipo de soluções têm um welfare effect positivo na vida urbana, e tudo depende da sua escala. Neste formato, porém, isto ainda são club goods: ou seja, são serviços que são prestados a quem paga por eles, num clube fechado. Se o Estado pegar nesta ideia e fizer como o serviço das bicicletas (mas não precisa de ser o Estado a produzir o serviço, pode adjudicá-lo a uma empresa privada se for mais eficaz - e muitas vezes é-o), poderia, aos poucos, generalizar esta solução para os carros e transformar isto num public good. Para maximizar o seu impacto, poderiam, por exemplo, ser criados incentivos a que quem levasse mais do que 1 ou 2 pessoas nos carros, acumulasse pontos que descontassem na tarifa mensal/anual. Assim teríamos menos carros na cidade e mais pessoas por carro; e no futuro, as pessoas até podiam chegar à conclusão que comprar carro é inútil, e o efeito agregado ao longo do tempo seria que talvez menos carros fossem vendidos, com uma baixa do número de carros por habitante.” (Hugo Mendes)
Sugestões específicas complementares avançadas por outros bloggers peões:
- reforço da circulação ciclopédica, permitindo às bicicletas andar nas faixas bus, como acontece em quase todo o lado onde há muitas bicicletas e oferecer sítios para estacionar as bicicletas em lugares estratégicos, propostas que fáceis de realizar e não muito caras, que podem começar a incentivar o uso da bicicleta nalgumas zonas da cidade (Zèd);
- incentivar a partilha de carros por privados, o car-pooling, criando faixas para carros com mais de 3-4 pessoas (existe em Seatle e noutras cidades dos EUA), ao lado das faixas bus, ajudando assim a diminuir o congestionamento de trânsito (Zèd).

Peões por Lisboa - Propostas concretas (III): habitação e urbanismo
“Um outro problema que me parece particularmente grave em Lisboa é a questão do imobiliário, particularmente o preço da habitação e o número de casas devolutas. Há zonas de Lisboa que estão desertas e necessitam urgentemente de uma injecção de novos moradores, principalmente no centro, na proximidade do eixo Baixa - Avenidas Novas, mas talvez noutras zonas também. Para começar o problema do preço da habitação não é exclusivo de Lisboa, nem uma solução satisfatória do problema não está ao alcance da CML. É necessário nomeadamente a sempre adiada reforma da lei das rendas, o que depende da Assembleia da República e do Governo. Isso não quer dizer que a CML não possa fazer algo para, pelo menos, minorar o problema. Há duas coisas que podem ser feitas.
- Obras coercivas. Há várias zonas em Lisboa com muitos prédios vazios, ou quase vazios, e que estão a deteriorar-se, ao mesmo tempo essas casas não estando no mercado os preços aumentam. A CML pode, e já foi feito ocasionalmente, obrigar os proprietários de imóveis em mau estado de conservação a fazer obras coercivas, isto deveria ser feito sistematicamente, em larga escala em todos os prédios com apartamentos devolutos e que estejam degradados. Seria ‘apenas’ uma questão logística de mobilizar mais meios para este aspecto. Esta medida poderia pôr pressão em muitos dos proprietários, que para financiar as obras no imediato teriam que pôr as casas no mercado. Programas de financiamento, como o Recria que já existe há bem mais de dez anos deveriam ser marginais, para financiar aqueles que não têm realmente meio de financiar as obras de outro modo.
- Limitação de licenças. Na Baixa, particularmente, o problema da falta de residentes parece-me ligado à concorrência com os escritórios e comércio que praticam preços incomportáveis para a habitação. Para que o comércio ou escritórios ocupem um apartamento necessitam de uma licença da Câmara. A CML deveria estabelecer um limite as essas licenças - por exemplo não se dão licenças de exploração acima do primeiro andar - assim criaria imediatamente mercados distintos para a habitação e comércio. Claro que as licenças já atribuídas não podem ser retiradas (ou podem?), mas licenças novas podem não ser atribuídas quando um escritório ou uma loja abandona um local. Pelo menos gradualmente poder-se-ia ir atraindo novos residentes. Esta medida provocaria também uma dispersão por Lisboa dos escritórios e comércio, o que também não seria mau (digo eu...).
- Moratória à construção. Pelos que se tem passado recentemente em Lisboa, vê-se bem que a construção é um problema. O património imobiliário que já existe parece-me suficiente para as necessidades de Lisboa. Pelo menos por uns tempos não se devia pura e simplesmente construir em Lisboa.” (Zèd)
Sugestões específicas complementares avançadas por outros bloggers peões:
- reforma da EPUL no sentido duma reorientação estratégica municipal para a reabilitação (note-se que parte relevante dos prédios devolutos são camarários, donde, a CML só teria a ganhar com esta opção), maior regulação do mercado, arrendamento e atenção às classes desfavorecidas e às classes médias, para segurar população (em vez de sortearam casas sem olharem aos rendimentos) e aposta na reabilitação de edifícios históricos com capacidade para funcionarem como pólos revitalizadores comunitários, convocando parcerias com a sociedade civil (Daniel Melo).

Peões por Lisboa - Propostas concretas (IV): cultura, formação e colectividades
“A política cultural é a área que se segue nesta série que pretende contribuir para uma nova política municipal em Lisboa, e por arrasto, para se repensarem as políticas públicas em geral.
A par do urbanismo, a área cultural foi das mais penalizadas pelo consulado Santana-Carmona.O 3.º maior arquivo do país, o Arq.º Histórico da CML, está fechado há 4 anos e não se criou uma alternativa temporária para a sua consulta em condições, só delírios megalómanos para um município como o de Lisboa, atolado em dívidas (refiro-me ao mirífico Arq.º/bib. central do Vale de St.º António).
Uma política cultural para Lisboa deve assentar nalguns pressupostos simples, que analisarei de seguida.
- Desde logo, devia-se encontrar um espaço provisório para instalar o Arquivo Histórico, e que tivesse boas acessibilidades e um mínimo de condições de trabalho para os estudiosos (um dos muitos palacetes seria suficiente).
- Desviar o dinheiro de foguetórios mil e destiná-los a obra séria também ajudaria, reforçando-se a rede de bibliotecas municipais (incluindo uma maior divulgação das unidades itinerantes e a criação dum protocolo com as associações voluntárias para a divulgação mútua de acervos, por ex. nas bases de dados bibliográficas).
- Aqui seria importante articular esta aposta com a da sua dinamização cultural (extensivo aos espaços arquivísticos municipais) através de sessões culturais, debates com autores, conferências temáticas (p.e., um especialista por mês no espaço x falando do assunto y), incluindo a aposta em debates sobre a cidade e a comunidade, etc..
- O Arquivo Fotográfico devia ser mais apoiado na feitura de exposições documentais e artísticas, assim reforçando o seu acervo e os olhares sobre a cidade. Devia tb. assumir-se como fonte de abastecimento da rede museológica.
- Devia-se reformar o Museu da Cidade, que parou claramente no tempo. Não seria muito difícil e podia começar por 3 áreas: o quotidiano e as identidades; o urbanismo; e a memória cívica. Na 1.ª podiam entrar as marchas populares e outras festividades, atraindo assim as colectividades e seus associados enquanto um dos novos públicos dos núcleos museológicos municipais. Aí tb. podiam entrar os pregões populares, entrevistas a alfacinhas, imagens de arquivo, etc.. O urbanismo seria um modo de estar inscrito na própria estratégia municipal este questionamento permanente sobre o passado, presente e futuro da cidade em que se vive, despertando o espírito crítico, a exigência e o envolvimento dos cidadãos. Na última área caberia trabalhar criticamente a memória da luta contra a ditadura, com novo núcleo museológico na antiga sede da polícia política e articulado com uma renovada Bib.ª-Museu da República e Resistência.
- Outra área estratégica devia ser a da formação de novos públicos, ligando-a ao sector educativo de modo a ajudar a quebrar o pouco valor por muitos ainda creditado ao sector cultural, devido à tal concepção do seu uso decorativo e mundano.
- Os roteiros culturais deviam reforçar-se, e serem articulados com visitas guiadas com olissipógrafos. Certos festivais de cinema e similares teriam apoio municipal para iniciativas nesta área.
- Deviam ainda estabelecer-se protocolos com associações voluntárias, com visitas guiadas a algumas para as escolas municipais e para outros públicos. Instituições como a Voz do Operário, o Ateneu Comercial, as casas regionalistas, os museus de alguns clubes de futebol, etc., podiam ser alguns dos interlocutores válidos. Dessas visitas podiam resultar experiências pedagógicas, como trabalhos e relatos das visitas na sala de aula.
- Certos edifícios deviam ser disponibilizados para pólos revitalizadores a nível comunitário, estabelecendo-se objectivos e parcerias com o terceiro sector, privados e poderes central e regional para o seu funcionamento. Neste âmbito, um exemplo modelar é o da Quinta de N.ª Sr.ª da Paz, que devia ser o Museu da Criança/ do Brinquedo, dando seguimento aos estudos realizados por técnicos municipais e apresentados na Assembleia Municipal (sobre o assunto vd.
aqui e aqui).
- O compromisso de recuperar o Teatro A Capital devia concretizar-se, pois era um pólo muito dinâmico e cosmopolita no Bairro Alto (a propósito, a algazarra copística no meio da rua aqui e noutros sítios devia ser proibida).
- A divulgação também podia melhorar: não faz sentido haver edição municipal que nem a própria edilidade cuida, com obras ausentes das próprias bibliotecas municipais! Há um célebre Dicionário de História de Lisboa que se encontra esgotado há anos e que a Livraria municipal já devia ter reeditado. Devia-se pôr termo à edição voraz de brochuras caras e inacessíveis; o sítio de Internet seria o suporte ideal. À agenda cultural devia retirar-se a informação fixa (a inserir num guia de equipamentos culturais), centrando-se aquela somente em informação mais ágil, actual e útil.
- Falta referir o Parque Mayer, um exemplo paradigmático de como a falta de reflexão, sentido estratégico e articulação de sectores ajuda aos maiores desastres políticos. Neste ponto, o melhor programa eleitoral era o de Carrilho, há que assumi-lo com isenção: tinha um bom plano para a revitalização cultural e turística da Av. Liberdade (dinamizando e apoiando o que já lá havia: S. Jorge, Tivoli, Condes, Politeama, etc.), articulado com o Pq. Mayer, recuperando a jóia do Capitólio, 1-2 teatros, cafés e restaurantes e, claro, o acesso directo ao Jardim Botânico. Este acesso seria uma mais-valia para a cidade, um achado, e anda a ser defendido por vários amantes de Lx. há décadas. Com efeito, a necessária renovação deste recinto devia ter aproveitado várias das ideias que há anos vêm sendo estudadas e apresentadas pelos estudiosos à cidade e de que dei conta resumidamente num artigo de balanço dos 80 anos do Pq. Mayer (vd. a parte específica do artigo
aqui). Em suma, sobre o Pq. Mayer teria bastado bom senso, auscultação de urbanistas e um pouco de estudo dos projectos anteriores para que agora o pudéssemos estar a usufruir e pudéssemos ter uma zona nevrálgica da cidade já mais dinâmica, por sua vez instigadora doutras dinâmicas. Aliás, a experiência bem sucedida deste Verão de bons concertos musicais no seu Teatro Variedades, despido de cadeiras e com uma recuperação mínima, é a demonstração cabal de que esta era a via a seguir. A recuperação do Pq. Mayer permitiria relançar o teatro na cidade, o turismo cultural e a economia local, o que seria um bom contributo para a cidade. Ainda vamos a tempo de arrepiar caminho e de travarmos mais um negócio urbanístico dispendioso, densificador e descontextualizado, sem ganho para a cidade nas contas finais.” (Daniel Melo)
Sugestões específicas complementares avançadas por outros bloggers peões:
- dinamização das colectividades de Lisboa, com o apoio da CML à divulgação das respectivas actividades (teatro, música, debates, cinema, etc.), incluindo a elaboração e disponibilização duma lista de salas de espectáculos destas associações (vd. por ex. o Clube Estefânia, que é uma das raras excepções) e a criação de uma agenda cultural (ou um suplemento) para os eventos culturais de amadores; sem gastar muito dinheiro a CML estaria a contribuir para criar novos públicos e para dinamizar as iniciativas da sociedade civil (Zèd).

Peões por Lisboa - Propostas concretas (V): urbanismo, equipamentos colectivos, cultura, política social e ambiental, democracia participativa
“Retomo a série «Peões por Lisboa» para divulgar uma iniciativa do
Fórum Cidadania Lisboa, a que se juntaram especialistas como Helena Roseta, Nuno Teotónio Pereira, Filipe Lopes (Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana), Guilherme Alves Coelho, Luís Coimbra e este vosso peão de serviço.O governo está interessado em vender 6 espaços emblemáticos de Lisboa: Liceu Machado de Castro, Docapesca, Quartel de Infantaria 1 (Forte Conde de Lippe), Hosp. D. Estefânia, IPO e Penitenciária (EPL).
O debate foi suscitado por associações e cidadãos interessados em pensar a cidade e por 3 razões imediatas: 1) a relevância desses espaços na dinâmica urbana (como diz o texto, mais que jóias, são dedos do património urbano alfacinha); 2) a necessidade de equacionar a ocupação destes espaços no quadro de planos urbanísticos pré-existentes e segundo uma lógica que articule habitação, terciário privado, com serviços públicos relevantes, espaços verdes, etc.; 3) em consequência dos 2 anteriores, a necessidade da venda de património deste teor levar o Estado central a auscultar interlocutores locais válidos e a aproveitar a discussão pública do tema.
Do debate gerado e dos contributos recolhidos pelo Fórum resultou um «Manifesto de cidadãos por Lisboa», que o Público publicou hoje com o título «
Seis casos, cinco ministérios, um só destino?». É uma página inteira (Local, p.28). Que tais ideias possam ajudar a repensarmos as nossas cidades.” (Daniel Melo)

Peões por Lisboa - Propostas concretas (VI) : cidadania e liberdade de expressão
“Voltando às propostas dos Peões por Lisboa, tomei conhecimento por
este post do Arrastão da decisão da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de mandar retirar o genial cartaz dos Gato Fedorento afixado na Rotunda. Parece-me do mais elementar bom-senso que mandar retirar o dito cartaz é uma «parvoíce». Ainda para mais fazê-lo apenas evocando meras razões processuais, como os Gato Fedorento não serem um partido político, que é para quem o espaço está reservado. Não há nada de errado com o cartaz, mas por um espírito de zelo burocrático ordena-se que seja retirado. Choca também a total ausência da mais elementar capacidade de antecipar as repercussões desta medida, a única consequência da decisão da CML vai ser contribuir ainda mais para a já de si má imagem da própria Câmara. Não ser um partido político deveria ser uma mais-valia, quem decide manifestar-se politicamente enquanto cidadão, como fizeram os Gato Fedorento, devia ser incentivado pela CML (e por todos os órgãos de soberania) a fazê-lo e não desencorajado. Quando temos um défice de cidadania em Portugal atitudes como esta da CML são no mínimo lamentáveis.
A proposta concreta que apresento para os Peões por Lisboa é precisamente a de abrir todos os espaços destinados à propaganda política, nomeadamente os de afixação, à sociedade civil, aos cidadãos, ou grupos de cidadãos, que desejem utilizá-los.” (Zèd)

domingo, 15 de abril de 2007

Determinismos

Como post que é, isto não vem resolver nada, nem sequer o assunto é resolúvel. Mas até por isso merece ser revisitado de tempos a tempos.
Por determinismo refiro-me à tendência do pensamento para coagir a liberdade de acção a um modo único (pelo menos a um único modo válido), geralmente através de uma argumentação aparentemente lógica. Esta tendência é natural, tanto no senso comum como no pensamento científico em geral, e ainda noutras formas de pensamento (religioso, por exemplo). Recorrente, só há como controlá-la, não como erradicá-la.
Em ciências naturais tende a ocorrer (actualmente) sob forma biológica: se a sinapse «X» está associada a tal processo mental, então ela causa-o. Que a causalidade seja assim reduzida de forma radical é o problema, mesmo reconhecendo a vantagem em simplificar (economizar) a argumentação. Na verdade, nada permite supor que a sinapse seja o único agente causal relevante numa acção humana, pelo contrário – isso seria supor que o continente dessa sinapse viveria sem ser afectado por fenómenos exteriores. O determinismo consiste em pensar que o modelo de descrição mais económico esgota o fenómeno e, assim, o explica.
O que se passa? Uma redução e uma equivalência: reduz-se a vida a uma parcela da sua actividade e faz-se equivaler um processo identificável com a totalidade de processos (físicos, mentais, sociais, etc.), identificados e não identificados, que inevitavelmente acompanham cada sinapse.
Numa fórmula: o determinismo científico actual, aplicado ao processo de decisão humano, reduz o hardware (ser humano no seu meio social) ao seu software (processos mentais actualmente identificados) ou, mais exactamente, ao uso desse software (às consequências verificadas do seu uso). E quem diz sinapses, diz genes, claro; quem ler literatura científica de há 100 anos verá como os «micróbios» e os «germes» explicavam tudo o que não se sabia, como hoje os «vírus» servem ao pessoal de informática...
Nas ciências sociais isto agrava-se por nem sequer haver possibilidade de experimentação isolada e controlada de forma rigorosa. É um velho vício das ciências sociais o querer replicar os processos (em boa medida idealizados, vela pena dizê-lo sem qualquer desprimor) das ciências naturais, e o esquecimento (ou a falta de cultura) do sentido próprio de certas noções («moral», «valor», etc.) faz com que mesmo resultados empíricos fiáveis e relevantes sejam enviesados na sua análise sem sequer se suspeitar disso.
O determinismo em matérias (e ciências) sociais assume geralmente a forma de racismo ou classismo inconsciente. Um conservador vê o estrangeiro como alguém que emigrou por falta de condições e que traz consigo uma cultura exterior, logo diferente e mesmo contrária à do país que o recebe e, por isso, logicamente uma fonte de problemas. Que a idealização da sua própria cultura seja assim aproblemática, que a diferença não signifique sempre oposição, que a resposta a eventuais problemas de origem exógena não os deve isolar de tratamento de problema endógenos, que a expulsão de estrangeiros não solucione coisa nenhuma, nada disso obsta ao determinismo conservador.
Simetricamente, pensar (como faz muita autoproclamada Esquerda) que todos os problemas sociais se devem às iniquidades do poder, como se o poder fosse tudo igual, não passa de determinismo. De novo, equivalência e redução: todo o poder é dado como igual (democrático ou ditatorial, etc.) e toda a relação com ele fica reduzida ao que resulta dessa equivalência, uma redução das relações sociais a uma lei da selva – a ilegalidade. Pois sem a valoração dos mecanismos legais (em sentido lato, incluindo costumes sociais geralmente aceites, i.e., que não comprometem a vida em sociedade), a análise da vida social fica reduzida a uma redescrição do «estado de natureza», como se a iniquidade ou a injustiça só pudessem ser enfrentadas pela força, contra pessoas ou bens. Ao vitimizar-se quem pratica a violência contra o «poder», demonizando sempre «os poderosos» («o sistema», «a sociedade em que vivemos», etc), apaga-se a diferença entre sociedades justas e injustas, entre sociedades que defendem ou que impedem as liberdades individuais, e reduz-se o indivíduo a um estado de animalidade, ele nada mais pode fazer além daquilo que faz, mesmo que seja roubar, etc. Como se a liberdade individual, e a responsabilidade social, não estivessem ao alcance dos pobres e dos ignorantes. Ou como se a violação de direitos humanos fosse a mesma coisa quando é sistemática (e esses direitos nem sequer reconhecidos) ou uma aberração feita apesar da própria disposição legal interna de um estado.
Naturalmente, a ciência moderna não prescinde de um certo determinismo, ao depender da causalidade. Mas apenas sob forma melhor designável como «construtivista», isto é, organizando-se de modo hipotético, elaborando modelos teóricos sempre discutíveis e (mesmo quando apostados em economizar os termos dos problemas) abertos a novas possibilidades de descrição, compreensão e pensamento, desde que fundamentadas. Sem nunca pretender sobredeterminar o seu objecto, seja em nome da ciência ou noutro qualquer, os métodos científicos são objectivos justamente por essa limitação voluntária que prescinde das certezas voluntaristas, fatalistas, e por pensar a causalidade como tendência, probabilidade, etc. No determinismo vulgar e fatalista não se trata, portanto, de «patologia da prova» (Fernando Gil), de querer provas sem falhas em matérias em que tais provas não são produzíveis. Trata-se de patologia da argumentação, que reduz a vida a um modelo e equivale aquilo que é diverso para servir o modelo (ou uma sua utilização) em vez de diferenciar o que é distinto. Nenhuma das patologias é nova, claro. Nem por isso a sua recorrência deve deixar de merecer atenção. Aqui fica só uma aproximação, admito.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Egalitarian motives in humans

Nature 446, 794-796 (12 April 2007) | doi:10.1038/nature05651; Received 8 November 2006; Accepted 5 February 2007

Christopher T. Dawes1, James H. Fowler1, Tim Johnson2,3, Richard McElreath4 & Oleg Smirnov5

  1. Department of Political Science, University of California, San Diego, California 92093, USA
  2. Center for Adaptive Behaviour and Cognition, Max Planck Institute for Human Development, Lentzeallee 94, Berlin 14195, Germany
  3. Department of Political Science, Stanford University, Palo Alto, California 94305, USA
  4. Department of Anthropology, University of California, Davis, California 95616, USA
  5. Department of Political Science, University of Miami, Coral Gables, Florida 33124, USA

Correspondence to: James H. Fowler1 Correspondence and requests for materials should be addressed to J.H.F. (Email: jhfowler@ucsd.edu).


Participants in laboratory games are often willing to alter others' incomes at a cost to themselves, and this behaviour has the effect of promoting cooperation1, 2, 3. What motivates this action is unclear: punishment and reward aimed at promoting cooperation cannot be distinguished from attempts to produce equality4. To understand costly taking and costly giving, we create an experimental game that isolates egalitarian motives. The results show that subjects reduce and augment others' incomes, at a personal cost, even when there is no cooperative behaviour to be reinforced. Furthermore, the size and frequency of income alterations are strongly influenced by inequality. Emotions towards top earners become increasingly negative as inequality increases, and those who express these emotions spend more to reduce above-average earners' incomes and to increase below-average earners' incomes. The results suggest that egalitarian motives affect income-altering behaviours, and may therefore be an important factor underlying the evolution of strong reciprocity5 and, hence, cooperation in humans.

Scarce resources create selective pressure for behaviours that influence how resources are divided in animal societies6. When the availability of resources is independent of the choices involved in acquiring them, such behaviours—for example, aggression6 and begging7—can be understood as explicitly motivated by preferences for specific resource divisions. In potentially cooperative encounters, however, resources are produced through organisms' choices to cooperate or defect; thus, behaviours that alter resource allocations produced in cooperative encounters can be viewed as either promoting a cooperation norm or satiating a taste for particular resource divisions4. This has sparked considerable debate about how to model social choices8, 9, 10 and has provoked questions4 concerning the ultimate source of behaviours—such as the reward of contributors3 and costly punishment of free-riders1—that promote cooperation.

For example, in the standard model of multi-person cooperation—the public goods game—cooperation and payoff are correlated. Individuals are endowed with a resource that can be contributed to a common pool; if contributed, the resource increases in value and is divided equally among group members. Social welfare is maximized if all group members contribute, whereas personal wealth is greatest when an individual retains her endowment and others contribute. Past research suggests that individuals are willing to punish those who do not contribute to the common pool1 and to reward those who do3. This behaviour has been interpreted as cooperative norm enforcement1, but because a player's contribution to the public good is proportional to her payoff from the public good, decreasing the payoff of a defector also has the effect of retrieving economic equality.

Attempts to separate norm enforcement from the pursuit of equality have been incomplete. For instance, one approach11 alters the efficiency of punishment by making punishment costs equal to the amount punishment reduces incomes. Although this prohibits an individual from reducing inequality between herself and the punished individual, it does not prevent reduction of the standard deviation from the group mean. If a player possessing above average income reduces the income of a wealthier player, then the income difference between high earners and below average earners decreases. Even players with below average income can reduce total inequality if their income is closer to the group mean than the above average earner's income. Thus, even though the inequality between the punisher and the punished player remains the same, punishment can still serve an egalitarian motive in this design11.

To separate motives, we use a simple experimental design to examine whether individuals reduce or augment others' incomes when there is no cooperative norm to advance (see Methods). We call these behaviours 'taking' and 'giving' instead of 'punishment' and 'reward' to indicate that income alteration cannot change the behaviour of the target. Subjects are divided into groups having four anonymous members each. Each player receives a sum of money randomly generated by a computer. Subjects are shown the payoffs of other group members for that round and are then provided an opportunity to give 'negative' or 'positive' tokens to other players. Each negative token reduces the purchaser's payoff by one monetary unit (MU) and decreases the payoff of a targeted individual by three MUs; positive tokens decrease the purchaser's payoff by one monetary unit (MU) and increase the targeted individual's payoff by three MUs. Groups are randomized after each round to prevent reputation from influencing decisions; interactions between players are strictly anonymous and subjects know this. Also, by allowing participants more than one behavioural alternative, the experiment eliminates possible experimenter demand effects12—if subjects were only permitted to punish, they might engage in this behaviour because they believe it is what the experimenters want.

Over the five sessions income alteration was frequent. Among participants, 68% reduced another player's income at least once, 28% did so five times or more, and 6% did so ten times or more. Also, 74% of participants increased another player's income at least once, 33% did so five times or more, and 10% did so ten times or more. Most (71%) negative tokens were given to above-average earners in each group, whereas most (62%) positive tokens were targeted at below-average earners in each group.

The size of income alterations varied with the relative income of the recipient (Fig. 1). Individuals who earned considerably more than other members of their group were heavily penalized. Subjects who earned ten MUs more than the group average received a mean of 8.9 negative tokens compared to 1.6 for those who earned at least ten MUs less than the group. In contrast, individuals who earned considerably less than other group members received sizeable gifts. Subjects who earned ten MUs more than the group average received a mean of 4 positive tokens compared to 11.1 for those who earned at least ten MUs less than the group. Individual spending decisions also suggest that subjects were influenced by concerns for inequality. On average, the bottom earner in each group spent 96% more on negative tokens than the top earner and the top earner spent 77% more on positive tokens than the bottom earner (both differences significant, Student's t-test, one-tailed, P <>
Figure 1: Mean reduction (a) and augmentation (b) of income by other players in each period as a function of the deviation from the mean income level of the other group members.
Income is assigned randomly to each group member by the computer. Reduction and augmentation are costly to the sender—each MU spent on 'costly taking' decreased the recipient's income by three MUs and each MU spent on 'costly giving' increased the recipient's income by three MUs.

Because choices to reduce or to augment others' incomes were costly and yielded no material gain, self-interested subjects had no incentive to engage in it. Those behaviours therefore might decline over time as subjects learn they are not profitable. However, period-specific taking and giving (Fig. 1) shows no consistent pattern over time. Mann–Whitney tests fail to reject the null hypotheses that the number of negative tokens received in period five by above-average earners is the same as that received in periods one to four (P = 0.38, two-tailed) or that the number of positive tokens received in period five by below-average earners is the same as that received in periods one to four (P = 0.86, two-tailed). Therefore, subjects' income-altering behaviour persists even after acquiring experience playing the game.

To explore how income affects these behaviours, we conduct Tobit regressions of negative and positive tokens received as a function of the positive and negative deviation of one's income from the average income assigned to other group members. We employ robust standard errors clustered on each experimental session. This method allows us to account for the fact that observations are independent only across sessions and that costly taking and giving are censored variables. When examining costly taking, the regression coefficient on 'negative deviation' is –0.45 (z = –5.11, P <>z = 4.43, P <>z = 0.41, P = 0.69). In a model of costly giving, the regression coefficient on 'negative deviation' is 0.83 (z = 7.56, P <>z = –2.43, P = 0.02); subjects' payoffs are increased by more than eight-tenths of an MU for each additional MU of income below the average income of other group members. The average income of other group members, when included in the regression, is insignificant (z = –1.41, P = 0.18).

We emphasize that income alteration provides no material benefit and, moreover, that a desire for revenge or reimbursement cannot explain choices to reduce or to augment others' incomes. Subjects were told that they never meet the same person twice, so they cannot satisfy, in future rounds, a desire to reciprocate negative or positive tokens assigned to them. To be sure that reciprocation was not a motivation, we conducted additional Tobit regressions. Results show that negative tokens sent were not significantly affected by negative tokens received in the previous round (z = –0.30, P = 0.76) and positive tokens sent were not significantly affected by positive tokens received in the previous round (z = –1.17, P = 0.24). Nonetheless, we did observe some behaviours that could not be explained by egalitarian motives. For example, below-average earners sent negative tokens to other below-average earners 12.2% of the time, while below-average earners sent above-average earners positive tokens 16.9% of the time (see Supplementary Information).

In our experiment there is no normative behaviour, so we wondered why people alter incomes. Others1 show that experimental subjects feel anger towards free-riders in a public goods setting and this anger may motivate punishment. Also, negative emotions inspire the destruction of earned resources when an undeserving party aims to usurp those resources13 and non-pecuniary expressions of anger satiate the desire to punish individuals who choose not to share a resource equally in experimental games14. Income levels are determined by subject behaviour in these experiments, so it is unclear whether resource distributions or anti-social behaviours cause the anger. One possibility is that inequality itself arouses negative emotions. If so, in our experiment we should observe annoyance and anger at high earners; these sentiments should increase as inequality increases and they should be associated with subjects' income-altering behaviours.

To elicit emotional reactions, we presented subjects hypothetical scenarios in which they encountered group members who obtained higher payoffs than they did (see Methods). Subjects were then asked to indicate on a seven-point scale whether they felt annoyed or angry (1, 'not at all'; 7, 'very') by the other individual. In the 'high-inequality' scenario, subjects were told they encountered an individual whose payoff was considerably greater than their own. This scenario generated much annoyance: 75% of the subjects claimed to be at least somewhat annoyed, whereas 41% indicated a high level (4 or more) of annoyance. Many subjects (52%) also indicated that they felt at least some anger towards the top earner. In the 'low-inequality' scenario, differences between subjects' incomes was smaller, and there was significantly less anger (Wilcoxon signed rank test, P <>P <>

These emotions seem to influence behaviour. Subjects who said they were at least somewhat annoyed or angry at the top earner in the high-inequality scenario spent 26% more to reduce above-average earners' incomes than subjects who said they were not annoyed or angry. These subjects also spent 70% more to increase below-average earners' incomes. Mann–Whitney tests of both differences indicate that they are significant (one-tailed, P = 0.05 and P = 0.001, respectively). Emotional reactions towards high earners—even when the source of income is known to be purely random—cause individuals to engage in costly acts that promote equitable resource distributions.

The evidence here indicates that social inequality arouses negative emotions that motivate both the reduction and augmentation of others' incomes. This finding supports research that indicates humans are strongly influenced by egalitarian preferences7, 8. Furthermore, the results distinguish between models of inequality aversion8, 9: models that specify which players' incomes will be altered for egalitarian reasons8 capture subject behaviour better than models that do not9. Finally, the results are also consistent with the punishment of non-contributors1 and the reward of contributors in public good games3. Although concerns for equality are clearly not the only motive for human behaviour in these contexts, our results suggest that egalitarian motives may underlie strong reciprocity11 and, thus, play an important role in the maintenance of cooperation.

Methods

The design and procedures of the experiment closely approximate a widely cited public good experiment1. One hundred and twenty (n = 120) students from the University of California at Davis volunteered to participate in the experiment. Recruitment of subjects was conducted in several different departments to maximize the chance that subjects did not know one another; any student who was at least 18 years old was eligible to take part in the study. Twenty subjects attended each of the six experimental sessions and each session involved five periods. Every period, subjects were randomly placed in groups of four subjects. At the beginning of each period subjects received a random payoff and were shown the payoffs for all four members of their group. To maintain comparability with other public good games, random payoffs were drawn from the empirical distribution of payoffs in the first stage of a widely cited public good game with punishment1. Subjects were then given an opportunity to either help or harm any member of the group by purchasing up to ten positive and ten negative tokens for each player. At the end of each period, subjects learned the amount of positive and negative tokens they received and their new payoff. The experiment lasted 30 minutes and on average subjects earned approximately ten US dollars per session.

All activity in the experiment was completely anonymous. Group composition changed every period so that no one played with the same person more than once. The subjects were ignorant of other players' experimental history: neither past payoffs nor past decisions were known. Different group composition each period and the absence of any history of play ensured that subjects could neither develop reputations nor target other subjects for revenge.

At the beginning of each session subjects were asked to read experiment instructions on their individual computer screens (see Supplementary Information), and they also had a paper copy available for reference. The instructions explained all features of the experiment, including how payoffs are determined, how group composition is altered every period, and how anonymity of individual decisions and payoffs in the experiment is preserved. In order for the experiment to start, subjects had to answer correctly several test questions designed to ensure full understanding of how choices in the game generate payoffs. At the end of the experimental session, subjects were asked to complete a survey about their demographic characteristics and a questionnaire concerning emotions. The experiment was programmed using GameWeb software written by R.McE.

The emotions questionnaire presented two hypothetical scenarios to subjects: "You receive 23 [19] tokens. The second group member receives 25 [21] and the third 21 [17] tokens. Suppose the fourth member receives 37 [22] tokens. You now accidentally meet this member. Please indicate your feelings towards this person." (Unbracketed numbers were used in the 'high-inequality' scenario and bracketed numbers were used in the 'low-inequality' scenario.) After reading each scenario, subjects were asked to indicate on a seven-point scale whether they felt annoyed or angry (1, 'not at all'; 7, 'very').

References

1 - Fehr, E. & Gächter, S. Altruistic punishment in humans. Nature 415, 137–140 (2002)
2 - Andreoni, J., Harbaugh, W. & Vesterlund, L. The carrot or the stick: rewards, punishments, and cooperation. Am. Econ. Rev. 93, 893–902 (2003)
3 - Sefton, M., Shupp, R. & Walker, J. The effect of rewards and sanctions in the provision of public goods. Center for Applied Economics and Policy Research Working Paper 2006–005, 1–43 (2006)
4 - Fowler, J. H., Johnson, T. & Smirnov, O. Egalitarian motive and altruistic punishment. Nature 433 E1 doi: doi: 10.1038/nature03256 (2005)
5 - Fehr, E., Fischbacher, U. & Gächter, S. Strong reciprocity, human cooperation, and the enforcement of social norms. Hum. Nat. 13, 1–25 (2002)
6 - Maynard Smith, J. & Price, G. The logic of animal conflict. Nature 146, 15–18 (1973)
7 - Bergstrom, C. T. & Lachmann, M. Signaling among relatives. III. Talk is cheap. Proc. Natl Acad. Sci. USA 95, 5100–5105 (1998)
8 - Fehr, E. & Schmidt, K. M. A theory of fairness, competition, and cooperation. Q. J. Econ. 114, 817–868 (1999)
9 - Bolton, G. & Ockenfels, A. ERC: A theory of equity, reciprocity, and competition. Am. Econ. Rev. 90, 166–193 (2000)
10 - Falk, A. & Fischbacher, U. A theory of reciprocity. Games Econ. Behav. 54, 293–315 (2006)
11 - Falk, A., Fehr, E. & Fischbacher, U. Driving forces behind informal sanctions. Econometrica 73, 2017–2030 (2005)
12 - Orne, M. T. On the social psychology of the psychological experiment: With particular reference to demand characteristics and their implications. Am. Psych. 17, 776–783 (1962)
13 - Bosman, R. & van Winden, F. Emotional hazard in a power-to-take experiment. Econ. J. 112, 147–169 (2002)
14 - Xiao, E. & Houser, D. Emotion expression in human punishment behaviour. Proc. Natl Acad. Sci. USA 102, 7398–7401 (2005)

Supplmentary Information

“Egalitarian Motives in Humans”

1. Income alteration that cannot be attributed to egalitarian motives
In response to one reviewer’s suggestion, we considered a method to illustrate the amount of observed income alteration that cannot be attributed to egalitarian motives. Below we show a table with the relative frequencies of sending positive and negative tokens to group members as a function of whether the target and sender are above the average income for their group. Consistent with our hypothesis that egalitarian motives influence subject decisions, above average earners in cells (1) and (2) are much more likely to have their income reduced, while below average earners in cells (7) and (8) are much more likely to have it augmented. Furthermore, the strongest likelihood of spending money on tokens occurs in cell (7) where above average earners can pay to increase the income of below average earners.
The only cells in this table where behavior is always inconsistent with egalitarian motives are (4) a below average earner sends negative tokens to a below average earner which makes both poorer, and (6) a below average earner sends positive tokens to an above average earner which makes the rich richer and the poor poorer. Since both of these frequencies are above zero, we acknowledge in the main text of the paper that there are other factors besides a concern for equality that induce costly taking and giving. However, just like the Fehr and Gaechter (Nature, 2002) and Falk, Fehr, and Fischbacher (Econometrica, 2005) experiments, our experiment does not establish and is not capable of establishing what these other factors are. Instead, our experiment shows that people are willing to pay for costly taking and giving even when the norm enforcement motive is eliminated, and consistent with an egalitarian motive, people are much more willing to pay for taking when the target is rich and giving when the target is poor. One might be tempted to use the frequencies in cells (4) and (6) as a “baseline” level of non-egalitarian taking and giving that occurs under any circumstances, but these alternative motivations to take and give may vary under different conditions. For example, there may be a strong desire not to be the lowest earner; that motive would spur competition between below average earners in cell (4) but not between above average earners in cell (1). Thus the “baseline” may be lower for cell (1) than for cell (4). Since we do not know what the baselines are for categories other than cell (4) and cell (6), in the main text we only report the taking and giving that occurs in cell (4) and cell (6) as inconsistent with egalitarian motives. However, it is possible that some of the taking and giving observed in the other cells is also due to alternative motivations.

2. An alternative measure of inequality

Another referee suggested that we consider an alternative measure of inequality. In the main text we present evidence concerning the tendency of subjects to target aboveaverage earners for taking and below-average earners for giving. However, even if subjects care about inequality, it is not obvious what reference point subjects might use to choose whom to target for taking and giving, and it is quite possible that some subjects might key their decision on their own income instead of the group average income. To compare these two different reference points, we present two tables of relative frequencies below:


First, notice that both types of reference point suggest subjects are more likely to take from the rich and give to the poor. Thus, the finding that egalitarian motives are exerting a strong influence on behavior is robust to varying specifications. Second, notice that the frequencies using group average income as the reference generate more discrimination in all four categories. That is, subjects above the group average are more likely to be the target of taking and less likely to be the target of giving than subjects with higher income than the sender; subjects below the group average are less likely to be the target of taking and more likely to be the target of giving than subjects with lower income than the sender. This suggests that the group average income performs slightly better than own income as the reference point for egalitarian behaviour. The implication is that inequality aversion models with penalties for total inequality in the group may be more appropriate than models with penalties for the distance between one’s own payoff and the average group payoff.

3. Text of the Instructions to Subjects
These instructions are adapted from instructions used by Fehr and Gaechter (2002) for «Altruistic Punishment in Humans.» You are now taking part in an economic experiment which has been financed by various foundations for research. If you read the following instructions carefully, you can, depending on your decisions, earn a considerable amount of money. It is therefore very important that you read these instructions carefully.
The instructions which we have distributed to you are solely for your private information. It is prohibited to communicate with the other participants during the experiment. Should you have any questions please ask us. During the experiment we will not speak of Dollars but rather of tokens. During the experiment your entire earnings will be calculated in tokens. At the end of the experiment the total amount of tokens you have earned will be converted to Dollars at the following rate:
1 token = 4 cents.
At the end of the experiment your entire earnings from the experiment and the 10 dollar show up fee will be immediately paid to you in cash. The experiment is divided into periods. In total, the experiment has six periods. In each period the participants are divided into groups of four. That is, your group has three other participants in it aside from you. Group composition will change in each period. In each of the six periods your group of four is composed of different people. Therefore, in each of the six periods you will form a group with three different people.
First Stage - At the beginning of each period the computer will randomly choose a number of tokens to give to each person in your group. The income of each group member from the project is calculated in the same way. An income screen will show you how many tokens you have earned at the first stage. After the first stage concludes, we will begin the second stage. Do you have any questions?
Second stage - You will see how much the individual group members have earned in the first stage. Please note that who is in your group is randomly determined in each period; the individuals in your group are likely to change over the course of the experiment. You will now have the opportunity to change or leave unchanged the income of each of the other group members. You can either decrease their income by allocating negative tokens or you can increase their income by allocating positive tokens. The other group members can also reduce or increase your income, if they so wish. You must decide how many negative or positive tokens to give to each of the other three group members and then enter a number for each of them in the boxes labeled "positive tokens" and "negative tokens". If you do not want to change the income of a particular group member, you enter 0 in each box. If you do want to distribute negative tokens, enter the number you want to allocate into the box labeled "negative tokens". If you do want to distribute positive tokens, enter the number you want to allocate into the box labeled "positive tokens". You can move from one input field to the other by pressing the tab-key or by using the mouse. If you distribute negative tokens, you must pay a cost for each of the negative tokens you allocate. Negative tokens are integers between 0 and 10. The more negative tokens you allocate, the higher your costs. The following formula indicates how much it costs to allocate negative tokens: Cost of negative tokens = Sum of allocated negative tokens.
Each negative token therefore costs you 1 token. If, for instance, you allocate 2 negative tokens to one group member, you must pay a cost of 2 tokens. If you allocate 9 negative tokens to another member, it will cost you an additional 9 tokens; if you allocate 0 negative tokens to the last group member, there will be no additional cost. Therefore, you have allocated a total of 11 negative tokens and your total costs are 11 tokens (2+9+0). Each negative token you allocate to a group member reduces his or her income by 3 tokens. If you allocate 0 tokens to a certain group member, you do not change the income of this group member. If, however, you allocate one negative token to a group member, you reduce his or her income by 3 tokens. If you allocate 2 negative tokens to a group member, you reduce his or her income by 6 tokens. If you distribute positive tokens, you must pay a cost for each of the positive tokens you allocate. Positive tokens are integers between 0 and 10. The more positive tokens you allocate, the higher your costs. The following formula indicates how much it costs to allocate positive tokens:
Cost of positive tokens = Sum of positive tokens. Each positive token therefore costs you 1 token. If, for instance, you allocate 2 positive tokens to one group member, you must pay a cost of 2 tokens. If you allocate 9 positive tokens to another member, it will cost you an additional 9 tokens; if you allocate 0 positive tokens to the last group member, there will be no additional cost. Therefore, you have allocated a total of 11 positive tokens and your total costs are 11 tokens (2+9+0). Each positive token you allocate to a group member increases his or her income by 3 tokens. If you allocate 0 positive tokens to a certain group member, you do not change the income of this group member. If, however, you allocate one positive token to a group member, you increase his or her income by 3 tokens. If you allocate 2 positive tokens to a group member, you increase his or her income by 6 tokens. Whether or by how much the income at the end of the period is in total increased or decreased depends on the total of the received positive or negative tokens. If somebody receives a total of 3 negative tokens (from all other group members in this period), then his or her income would be decreased by 9 tokens. If somebody receives a total of 4 negative tokens, his or her income is reduced by 12 tokens. Likewise, if somebody receives a total of 3 positive tokens (from all other group members in this period), then his or her income would be increased by 9 tokens. If somebody receives a total of 4 positive tokens, his or her income is increased by 12 tokens. Your total income from the two stages is therefore calculated as follows: Total income (in tokens) at the end of the period = period income =
= income from first stage (1)
– 3*( sum of received negative tokens ) (2)
+ 3*( sum of received positive tokens ) (3)
– costs of your negative tokens allocated to others (4)
– costs of your positive tokens allocated to others (5)
if (1) + (2) + (3) + (4) + (5) ≥ 0;
= 0 – costs of your distributed tokens
if (1) + (2) <>

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Uma pergunta

Antes de um post sobre determinismo, uma pergunta mais própria deste ladob.
Isto de as Ordens não reconhecerem cursos autorizados pelo Ministério do Ensino Superior é no minimo esquisito. As Ordens são entidades reconhecidas pelos poderes públicos pelo seu interesse para a boa organização de determinadas actividades profissionais e como tal dispõem de competências na sua regulamentação; não são autorizadas a ditar o que é ensino ou não é. Isso o Estado detém para si.
Uma coisa é só se poder ser engenheiro se se registar na Ordem e cumprir certos requisitos de acesso ao exercício da profissão; outra é a Ordem discriminar mais do que a autoridade legalmente competente no que toca a questões de ensino. E o caso dos engenheiros não é o único. Bem sei que o minisério não cumpre as suas obrigações, mas isso é outro assunto. O não cumprimento é geral, e as Ordens não deixam de beneficiar disso para abusarem da sua autoridade e discriminarem socialmente em favor de uns e prejuízode outros. Se actuasse, o ministério interferia com elas, com o ensino privado e, por fim com o público - ou seja, consigo. Mas além desta «explicação sistémica», se me souberem explicar como se processa este fenómeno, agradecia.

domingo, 8 de abril de 2007

Blogues de e para arquivistas

No panorama português, ainda há poucos blogues de e para arquivistas (conheço O Arquivista e o Notas Soltas), mas noutros países o cenário é mais animador. O ArchivesBlogs é uma colecção de blogues de e para arquivistas. Publica postas retiradas dos blogues associados. A lista que se segue encontra-se aqui:

Blogues associados*
http://archivesblogs.com/
"A collection of blogs by and for archivists"
Mark Matienzo
Blogues mantidos por arquivistas individuais
http://www.anecdotalarchivist.blogspot.com/
State Archivist of Michigan – Mark Harvey
Society of Qualified Archivists (Althea Wailes-Hadden) – British (send-up?)
Spellbound Blog – Ponderings of an Archives Student
Jeanne Kramer-Smyth, MLS Student at the University of Maryland, personal weblog
Ten Thousand Year Blog
David Mattison, Victoria, BC, personal weblog
The Digital Archive
David Kemper, Montreal, BC, personal weblog
Alone in the Archives
Linda Clark Benedict, University Archivist (sole arranger) for Hobart and William Smith College, update New York, personal/professional weblog
The Anarchivist
Geof Huth, Schenectady NY, personal weblog
Archivemati.ca : Researching Access to Digital Archives
Peter Van Garderen, PhD candidate in Archive and Information Science at the University of Netherlands (UBC MAS)
Foldering : News, Issues, and Ideas for Professional Archivists
Christie Peterson, professional archivist (2006 graduate, M of Science in Information, U. Michigan)
Myspace blog for “anarchivist”
San Francisco, CA : 46 year old
Mark A. Matienzo
Archives, Music + more, personal weblog
anarchists, architects, activists…
newly minted archivist (graduated 2006), personal weblog
The Irreverent Archivist
personal weblog
Hyde Collection Catablog
"The Donald and Mary Hyde Collection of Samuel Johnson is a comprehensive collection of the works of Samuel Johnson, his associates and contemporaries, and the literary world of 18th century London. As the cataloger of the printed book portion of the collection, I have the privilege of examining each book in the collection, and I will be using this blog to share some of my discoveries. Send comments or questions to overholt@fas.harvard.edu."
NeoArch
Jason Fowler, archives and special collections librarian
The Lone Arrangers
A blog focused on issues important to archivists working alone or with limited staffing.
Archivistica.Net
Un blog dedicado a las noticias relacionadas con la archivística y las nuevas tecnologías
Reading Archives
Richard J. Cox, Professor in Library and Information Science at the University of Pittsburgh, School of Information Sciences
The Practical Archivist
Archiving tips and geeky tidbits from Sally Jacobs, an archivist who never met an antique photo she didn't like.
Blogues institucionais e de consultadoria
Johnson Library Archives & Special Collections
“… records the progress of the archives and special collections of the Southern Polytechnic State University's Lawrence V. Johnson library” Marietta, GA
institutional weblog
A blog focused on the digital transformation and preservation of audiovisual material.
Media Matters, LLC is a technical consultancy specializing in archival audio and video material. Media Matters provides advice, analysis, and products to media archives that apply beneficial advances in technology to collection management.
consultancy weblog
This blog covers the latest exhibitions and web features sponsored by the Archives & Special Collections, Franklin & Marshall College.
institutional weblog
Haverford College Libraries: Quaker & Special Collections: New & Noteworthy in Special Collections
institutional weblog
Special Collections, Louisiana State University Library
institutional weblog
M.E. Grenander Department of Special Collections and Archives Blog
"The M.E. Grenander Department of Special Collections and Archives in the University at Albany Libraries serves as a repository for manuscripts, archives, books, and special collections of original research materials. This blog shares information about events, exhibits, collections, and new resources from the Department."
institutional weblog
North Carolina State University: Special Collections Research Center News
"Special Collections Research Center News delivers news and information of interest to the NC State community. These news items are related to the Special Collections Research Center, its collections of manuscripts, rare books, and university archival material, and include updates on services and resources, events, and grants and awards received that will allow the Center to better serve the research needs of the NCSU undergraduates, graduate students, faculty, and staff."
institutional weblog
University of Houston Libraries, Special Collections
institutional weblog
Academic Health Center Archives Project, University of Minnesota
A partnership between the University Archives and the Academic Health Center to survey, identify, collect and process the institutional and historical documentation of the Academic Health Center, University of Minnesota.
project weblog
Beinecke Rare Book and Manuscript Library, Yale Collection of American Literature blog
curatorial unit weblog
Archives Hub Blog (UK) – part of National Archival Network, University of Manchester
Social Bookmarking Blog for Research Archivists
Simmons GSLIS : Dispatches from the Field
“Faculty, Faculty, students and friends of Simmons GSLIS take the program international to provide training to librarians around the world. Here are some of their dispatches from the field…” (David Dwiggins, Archives/History grad student at Simmons, blogging)http://hangingtogether.org/
Hanging Together
“HangingTogether is a place where some of the staff at RLG, a membership organization of libraries, archives, and museums, can talk about the intersections we see happening between these three different types of institutions. We travel to our members a lot and go to conferences and wanted to be able to take note of the interesting things we see along the way. Stop in, stay awhile, and hang out.”
Organizational communal weblog
The Canadian Archivist Blog
The intention of this community is to provide a venue for the discussion of all things archives. The Canadian Archivist Blog hopes to bridge the communication gap between the curious, local community volunteers, students and professionals. It is a forum for open discussion where questions, concerns, advice, and ideas may be presented. Unmoderated and open to membership by all.
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* Entre os 72 blogues associados, contam-se o Archivistica.net de María José Aldaz (arquivista do Arquivo Geral de Navarra), disponível desde Janeiro de 2003, e o Reading Archives de Richard J. Cox, que recomendo vivamente.