quinta-feira, 13 de março de 2008

Clara Pinto Correia e os transgénicos

O programa "A1 Ciência" quando Clara Pinto Correia fala sobre plantas transgénicas:



A carta aberta de Pedro Fevereiro em resposta ao programa de Clara Pinto Correia:


Carta Aberta

A opinião de Clara Pinto Correia sobre os transgénicos


Na edição de 12 de Fevereiro de 2008 do Programa “A1 Ciência”, emitido pela Antena 1 da RDP, Clara Pinto Correia teceu uma série de considerações acerca das plantas transgénicas que convém esclarecer. Clara Pinto Correia diz que “têm-se vindo a criar estirpes de plantas transgénicas que são extremamente abrasivas para o solo”. A afirmação não só é falsa como é desprovida de qualquer fundamento técnicocientífico. Não existem plantas (transgénicas ou não) “abrasivas” para o solo. O que existem são práticas agrícolas que permitem (ou não) preservar os solos da erosão que estas (práticas agrícolas) provocam. Significativamente a adopção das variedades transgénicas de soja e milho resistentes aos herbicidas têm vindo a potenciar a adopção de práticas que evitam a erosão dos solos, como a não mobilização do solo e a sementeira directa. Estas práticas evitam a perda anual de milhões de toneladas de solo arável.

Clara Pinto Correia também afirmou que [as plantas] “…porque se reproduzem muito depressa, têm três a quatro colheitas por ano, colonizam terras rochosas, terras arenosas, etc.” e que “… se tu plantas trigo três vezes por ano…”. É preciso esclarecer que não existe no mundo nenhum cereal que tenha três colheitas por ano (em Portugal, nem sequer duas colheitas por ano), quanto mais quatro. E que as variedades geneticamente modificadas, utilizadas em 2007 por mais de 12 milhões de agricultores não têm esta capacidade.

Clara Pinto Correia diz ainda que “Para já, são uma maneira de implementar a monocultura, ou seja, a produção fica toda nas mãos de uma companhia…”. A autora da frase confunde a venda de sementes com a produção agrícola e obvia que existem várias multinacionais que desenvolvem e comercializam sementes transgénicas. Clara Pinto Correia confunde ainda o público, pois a questão da monocultura não depende da adopção das variedades transgénicas, mas da utilização em grandes áreas geográficas de uma só variedade de uma só espécie, condicionando a produção e a economia dessa região a essa escolha. Na verdade, as variedades transgénicas aumentam a possibilidade de escolha dos produtores agrícolas (dos agricultores) dando-lhes mais opções de diversificação da produção com a redução de impactos (redução do uso de pesticidas e herbicidas) e maior controlo de pragas e doenças.

Clara Pinto Correia tece ainda considerações como: “Então, vá de mandar isto para os países africanos…” referindo-se a uma “variante vegetal geneticamente modificada que lhes dá muita vitamina C”. É necessário esclarecer que em África apenas são cultivadas variedades geneticamente modificadas na África do Sul e que os relatos dos pequenos agricultores que as utilizaram demonstram que estas variedades estão a ter um impacto determinante no combate à pobreza neste País. É ainda necessário esclarecer que não foram até agora comercializadas variedades geneticamente modificadas que produzam maior teor de vitamina C.

Clara Pinto Correia prestou um péssimo serviço ao público ao emitir este conjunto de opiniões descabidas e reveladoras de um total desconhecimento quer de Biologia das Plantas, quer de Agrobiotecnologia.

É pena que o Programa A1 Ciência permita que estas declarações sejam publicadas sem nenhum esclarecimento e sem a confrontação com a realidade científica e técnica actual.


Lisboa, 3 Março de 2008

Pedro Fevereiro
(Presidente do Centro de Informação de Biotecnologia)

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